Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Arismar do Espírito Santo: ‘A gente passou anos difíceis no Brasil’
Multi-instrumentista virtuoso conta o processo de tocar e compor com a emoção na ponta dos dedos
Arismar do Espírito Santo começou como baterista tocando no Baiúca, histórico bar de música ao vivo no centro de São Paulo, que revelou muitos músicos nas décadas de 1960 e 1970. Depois, se afeiçoou com a percussão, piano, baixo, violão e guitarra.
Virou multi-instrumentista, um dos maiores do país, com 50 anos de carreira. “Tem aquela coisa do coroa, que tem que ir praticando para não perder o bote”, diz o Arismar que procura deleitar-se com a música e encontrar o “êxtase” no processo de composição com o instrumento nas mãos.
“Uma coisa é imaginar a música. Outra é no instrumento, que harmoniza diferente”, conta. “A cabeça pensa mais rápido que os dedos. Você pensa uma série de notas todo dia. É uma maneira de chegar nela. Não é força, é jeito. Daqui a pouco você chega numa nota maravilhosa. Essa nota, enfim, emociona”.
Entre os músicos favoritos e que o inspira, ele cita o amigo Hermeto Pascoal: “Maravilhoso”. Arismar tocou em dezembro com o mago dos sons, mas já se apresentaram juntos muitas vezes no passado, inclusive no exterior.
“Me senti em casa. Mais à vontade impossível”, lembra. “Ele falou: ‘toca o que você quiser’. Esse ‘fica à vontade’ é uma felicidade muito grande. Ele é uma ideia de ritmos. A música universal ele não prega, ele toca”.
Na conversa, Arismar ainda comentou o que ocorreu País no passado recente. “A gente passou anos difíceis no Brasil. Estava difícil dançar. Estava todo mundo vacinado, mas tinha uma pressão estranha à volta. A gente não é assim”, disse sobre a pandemia e governo obscuro. “Agora tem que se aninhar”.
O multi-instrumentista prepara agora com o harmonicista Gabriel Grossi um disco de 12 faixas em homenagem a Dominguinhos. Os dois já vêm fazendo shows juntos – chamado Zabumbaixo e Fole d´Boca – em torno do acordeonista, mas vão transformar o encontro em registro fonográfico a ser gravado a partir de abril.
Como não poderia deixa de ser, Arismar do Espírito Santo já tocou com Dominguinhos. E o coloca entre os grandes que conheceu. O disco irá propor aquilo que mais o acordeonista tinha como característica: a versatilidade – algo extremamente possível quando o trabalho envolve Arismar.
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