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Começa a apuração na acirrada eleição presidencial da Nigéria; entenda o que está em jogo
O pleito é acompanhado com atenção fora do país, depois dos golpes de Estado no Mali e em Burkina Faso


A contagem dos votos começou neste sábado 25 na Nigéria, após a realização de eleições presidenciais sem um favorito claro entre os três principais candidatos a chefiar o país mais populoso da África, mergulhado em uma grave crise econômica e de segurança.
As seções eleitorais fecharam às 14h30 locais (10h30 de Brasília), em um dia sem grandes incidentes, mas com atrasos na abertura de alguns locais de votação.
A publicação da apuração final deve ocorrer no prazo de duas semanas, embora a Comissão Eleitoral tenha prometido se esforçar para divulgá-la o mais rapidamente possível.
Não são conhecidos os dados de participação entre os 87 milhões de nigerianos aptos a votar. Nas presidenciais de 2019, apenas 33% dos inscritos foram às urnas.
O presidente em fim de mandato, Muhammadu Buhari, de 80 anos, há oito no poder, não está na disputa porque atingiu o limite de dois mandatos imposto pela Constituição.
Sua presidência foi marcada por um aumento explosivo da violência e da pobreza no país, maior produtor de petróleo do continente, onde 60% de seus 216 milhões de habitantes têm menos de 25 anos.
Pela primeira vez desde a instauração da democracia em 1999, o pleito, com três candidatos fortes, pode ser definido no segundo turno.
“Um, dois, três!”, contava um grupo de eleitores em uma seção em Port Hartcourt, à medida que os agentes eleitorais contavam os votos.
“Quero garantir que estas eleições sejam transparentes, livres e justas”, disse Juliette Ogbonda, de 30 anos, uma recepcionista que decidiu permanecer em uma seção após votar para acompanhar a apuração. O país foi marcado no passado por problemas de fraude eleitoral.
Surgimento de um candidato alternativo
A campanha foi marcada pelo avanço de Peter Obi, 61 anos, popular ex-governador de Anambra. O candidato do Partido Trabalhista apresentou promessas de mudança e ameaça a hegemonia dos dois partidos tradicionais na ex-colônia britânica, independente desde 1960.
“Se estas eleições forem livres e confiáveis, acredito que posso vencer”, disse Obi à AFP após ter votado em sua cidade natal, Amatutu.
O Congresso de Todos os Progressistas, partido de Buhari, apresenta como candidato à sucessão Bola Tinubu, 70 anos, apelidado de “o padrinho” por sua enorme influência política.
O Partido Democrático Popular aposta na candidatura do ex-vice-presidente (1999-2007) Atiku Abubakar, 76 anos, que tentará pela sexta vez chegar ao posto de chefe de Estado.
“Estas eleições são mais confiáveis que as anteriores”, afirmou Abubakar após votar.
Além dos três favoritos, outros 15 candidatos se apresentaram nestas eleições.
Em caso de segundo turno, a votação deve acontecer 21 dias após o anúncio dos resultados.
As eleições são acompanhadas com atenção fora da Nigéria, depois dos golpes de Estado no Mali e em Burkina Faso que colocaram em xeque a democracia na África Ocidental. A região também enfrenta a propagação dos grupos armados islamitas.
Desafios
O vencedor da eleição terá de enfrentar os muitos problemas da maior economia da África, que vão da inflação e do aumento da pobreza até a falta de segurança e a violência fundamentalista, passando por um movimento separatista no sudeste.
“Não temos combustível, não temos comida. Todos sofrem”, declarou na véspera da votação Abdulahi Audu, 31 anos, morador de Lagos, capital econômica do país. Ele disse que pretendia votar porque “o país precisa de uma mudança”.
A campanha também foi marcada por ataques contra candidatos, ativistas, delegacias de polícia e locais de votação.
O governo mobilizou 400 mil membros das forças de segurança em todo o país. A Comissão Eleitoral reportou alguns incidentes durante o dia de votação, como tentativas de intimidação e agressões por parte de criminosos em algumas seções.
A identificação dos eleitores por reconhecimento facial e digital e a transmissão dos resultados por via eletrônica devem limitar o risco de fraudes como as que afetaram as eleições anteriores, destacou a Comissão Eleitoral.
O uso de novas tecnologias, algo inédito em escala nacional, provoca, no entanto, o temor de falhas no sistema. Também influenciam fatores étnicos e religiosos, em um país que abriga 250 etnias, divididas entre o norte, majoritariamente muçulmano, e o sul, de maioria cristã.
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