Saúde
Ouro, comida e trabalho: as promessas feitas por garimpeiros que abusam de mulheres yanomami
Segundo o relatório, em 2020, três adolescentes de 13 anos morreram no território vítimas de estupro


Um relatório produzido por associações yanomamis, publicado em abril do ano passado, detalha as diversas formas de abuso que garimpeiros de Roraima praticam contra crianças e mulheres no território indígena.
Os assédios envolvem promessa de ouro em troca de sexo, bebidas alcóolicas, armas, trabalho e materiais de alto valor como uma forma de garantirem acesso ao território.
“Aquela moça que você levou consigo é sua irmã? Se você fizer ela deitar comigo, sendo que você é o irmão mais velho dela, eu vou pagar 5 gramas de ouro”. O relato de um yanomami sobre a situação de assédios constantes consta no relatório “Yanomami Sob Ataque”, produzido pelas associações Hutukara e Wanasseduume Ye’kwana. Trechos do documento foram revelados em uma reportagem do UOL publicada nesta segunda-feira 30.
O relatório expõe ainda o assédio condicionado à oferta de alimento.
Yanomami: “Vocês estão tirando ouro de nossa floresta, vocês devem dar comida para nós sem trocar.”
Garimpeiro: “Vocês não peçam nossa comida à toa! É evidente que você não trouxe sua filha! Somente depois de deitar com tua filha eu te darei comida. Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrizar uma grande quantidade de comida que você vai comer! Você se alimentará!”
Garimpeiro: “Se eu pegar tua filha, não vou mesmo deixar vocês passarem necessidade!”.
Segundo o relatório, os indígenas jovens são o alvo predileto dos garimpeiros, que fazem as abordagens em comércio e até em postos de saúde. Os abusadores também costumam ofertar álcool a meninas e mulheres, durante eventos, para facilitar o abuso sexual posteriormente.
O cenário também tem contribuído para o quadro de infecções sexualmente transmissíveis entre meninas e mulheres do povo yanomami. Segundo um depoimento que consta no relatório, em 2020, três adolescentes de 13 anos morreram no território vítimas de estupro.
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