CartaCapital
Crime/ Daniel Alves na cadeia
Lateral é acusado de estuprar jovem de 23 anos na Espanha


Coadjuvantes no futebol atual, os jogadores brasileiros, do passado recente e do presente, disputam a tapas a “bola de ouro” da canalhice. Temos o estuprador foragido Robinho, o sonegador Neymar, o caloteiro Cafu e o ex-presidiário Ronaldinho Gaúcho. A concorrência agora ficou mais acirrada. Daniel Alves, sem clube, convocado para a Copa do Catar na função de baby-sitter de Neymar, foi detido na sexta-feira 20, acusado de violar uma jovem de 23 anos em uma boate de Barcelona. O lateral direito mudou a versão dos acontecimentos ao menos três vezes. Ainda em liberdade, em entrevista à rádio Antena 3 e na parte inicial do depoimento à polícia, Alves afirmou ter cruzado com a mulher no banheiro, sem nenhum tipo de contato. Confrontado com as evidências, refez a declaração: a suposta vítima teria sentado no seu colo, mas os dois permaneceram vestidos. Por fim, diante da descrição detalhada feita pela jovem de uma tatuagem do jogador que se estende do abdome à zona genital, o brasileiro admitiu a relação sexual, mas disse que o ato teria sido consentido. As contradições levaram a juíza do caso a decretar a prisão preventiva, decisão também influenciada pelo “fator Robinho”, condenado na Itália, mas livre, leve e solto no Brasil (o País não extradita compatriotas). Mudanças recentes no Código Penal da Espanha endureceram as punições por estupro e assédio sexual. Se condenado, Alves pode pegar até 12 anos de cadeia.
Hora marcada
Antônio Cláudio Alves Ferreira, vândalo responsável por destruir um relógio do século XVII durante a invasão do Palácio do Planalto em 8 de janeiro, foi preso na segunda-feira 23 em Uberlândia. Como outros “cidadãos de bem” que participaram dos atos terroristas, Ferreira tem uma ficha corrida respeitável: respondeu a processos por ameaças e tráfico de drogas. O relógio de pêndulo, fabricado por Balthazar Martinot, relojoeiro do rei Luís XIV, foi um presente da corte francesa a Dom João VI.
Lojas Americanas/ Eles não sabiam?
O trio de acionistas majoritários nega conhecimento da fraude
Sicupira, Lemann e Telles se declaram surpresos com o rombo – Imagem: Redes sociais
Após dias de silêncio, os principais acionistas da Lojas Americanas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, divulgaram nota na qual negam participação na fraude da varejista estimada em 40 bilhões de reais. O trio declarou-se tão enganado quanto credores, fornecedores e funcionários. “Jamais tivemos conhecimento e nunca admitiríamos quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia”, diz o texto. “Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do País.” Posta em recuperação judicial, a empresa tem cerca de 16 mil credores, entre eles gigantes do setor financeiro. A Comissão de Valores Mobiliários abriu quatro inquéritos para investigar os responsáveis. As ações da companhia perderam mais de 80% do valor desde o anúncio da “inconsistência” contábil.
O mandante, segundo a PF
A Polícia Federal do Amazonas informou ter identificado o mandante do assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira. Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, chefe de um esquema de pesca ilegal no Vale do Javari, teria ordenado as mortes, concluíram os investigadores. “Nunca descartamos nenhuma linha investigativa, e a estratégia mostrou-se exitosa”, celebrou o delegado Eduardo Fontes. “Não tenho dúvidas, temos um mandante.”
Ditadura/ Punidos no bolso
Justiça condena torturadores a pagar indenização milionária
Herzog, uma das 25 vítimas dos delegados – Imagem: Instituto Vladimir Herzog
O Tribunal Regional da 3° Região condenou três torturadores por danos morais coletivos à sociedade brasileira pelos crimes cometidos durante a ditadura. Os delegados aposentados Aparecido Laertes Calandra, David dos Santos Araújo e Dirceu Gravina foram multados em 1 milhão de reais cada. O montante, determinou a juíza Diana Brunstein, será destinado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, administrado pelo Ministério da Justiça. O tribunal reconheceu a participação dos delegados, direta ou indiretamente, na tortura e assassinato de 25 vítimas do regime, entre elas o jornalista Vladimir Herzog. A sociedade, anotou a magistrada no despacho, “até hoje se ressente das arbitrariedades praticadas por agentes de Estado no período ditatorial e, de maneira geral, teme o retorno das violações perpetradas no período”.
P.S.: Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos, reformulou a Comissão de Anistia, criada em 2002, mas deformada por Jair Bolsonaro, que nomeou militares para as funções. Saem os fardados, determinou Almeida, voltam os perseguidos políticos.
Ucrânia/ A guerra em segundo plano
Acusações de corrupção leva Zelensky a mudar o gabinete
Pressionado pela opinião pública, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, promoveu uma faxina no governo, maior reformulação da equipe desde o início da invasão russa. Parte das mudanças tem a ver com denúncias de corrupção. No Twitter, Mykhailo Podolyak, assessor de Zelensky, explicou: “O presidente vê e ouve a sociedade. E responde diretamente a uma demanda importante. Justiça para todos”. Uma das baixas expressivas é Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do gabinete presidencial. Sem explicar o motivo do pedido de demissão, Tymoshenko publicou uma mensagem no Telegram. “Agradeço ao presidente (…) pela confiança e pela oportunidade de fazer boas ações todos os dias e todos os minutos”, escreveu. As mudanças ocorreram dois dias depois de um dos vice-ministros de Infraestrutura ter sido preso por desviar 400 mil dólares (cerca de 2 milhões de reais) dos contratos de compra de geradores.
Alvos asiáticos
Em 48 horas, a comunidade asiática de Los Angeles esteve no centro de dois massacres provocados por atiradores. Na noite do sábado 21, Huu Can Tran, de 72 anos, invadiu um salão de dança em Monterey Park, disparou 42 vezes a esmo e fez 11 vítimas. Tran tentou invadir outro salão nas proximidades, mas acabou desarmado e fugiu. Acabaria preso horas depois. Segundo o jornal Los Angeles Times, o massacre teria sido motivado por ciúme: a ex-esposa havia sido convidada para uma festa, mas o atirador foi excluído, por ser violento. Na segunda-feira 23, Chunli Zao entregou-se à polícia e disse ter assassinado sete colegas de trabalho em duas fazendas no condado de San Mateo.
Alemanha/ Golpistas não escapam
Justiça indicia por traição cinco acusados de tramar a intentona
Os golpistas alemães queriam um novo Reich – Imagem: Boris Roessler/DPA/AFP
Quatro homens e uma mulher de extrema-direita acusados de organizar o fracassado golpe de Estado na Alemanha foram indiciados por traição na segunda-feira 23. O objetivo do grupo era sequestrar o ministro da Saúde, Karl Lauterbach, sabotar instalações elétricas, instigar uma guerra civil e instalar um novo Reich no país. Havia um braço “militar” e uma central administrativa. Segundo os ideólogos, o Estado moderno é ilegítimo e deveria ser substituído pelo império do século XIX e uma ordem autoritária. Os planos foram frustrados pelos serviços de inteligência, que desbarataram as células terroristas no ano passado. Um dos militares da reserva detidos durante a operação policial tinha duas empresas em Santa Catarina e costumava passear no estado (a mais bolsonarista unidade da federação). Os golpistas mantinham ainda vínculos com o QAnon, movimento norte-americano com ares de seita. O extremismo de direita tornou-se, faz alguns anos, a maior fonte de preocupação das autoridades alemãs, acima das organizações islâmicas.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1244 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE FEVEREIRO DE 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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