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‘Nacionalização não é irregular’

Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobrás, diz que ação de Cristina Kirchner visa preocupação estratégica

‘Nacionalização não é irregular’
‘Nacionalização não é irregular’
Foto: ©AFP/Arquivo / Philippe Desmazes
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A decisão do governo argentino de expropriar 51% das ações da petroleira YPF, filial do grupo espanhol Repsol, sob a alegação de que a empresa não estaria cumprindo o plano de investimento no país, retrata uma preocupação estratégica de longo prazo da presidenta Cristina Kirchner e, ao mesmo tempo, uma afirmação do orgulho nacional frente a empresas estrangeiras. É o que defende Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor da Petrobras.

Em entrevista a CartaCapital, o analista diz que as privatizações do setor petrolífero no governo de Carlos Menem coincidiram com a descoberta de muitos recursos, mas em um período em que a Agentina exportou petróleo com valores baixos. “O governo [atual] viu que abordagem neoliberal destruiu as riquezas nacionais e colocou o país sob a ameaça de ter que importar derivados.”

Neste cenário, Sauer acredita que a ação argentina não é irregular. “A soberania nacional permite que se nacionalize recursos, está previsto nas constituições dos países. Basta força política no Congresso para realizar essa manobra. Trata-se de escolhas, que vão ter mais ou menos apoio nas camadas sociais.”

O presidente da Repsol, o espanhol Antonio Brufau, no entanto, reagiu ao anúncio com furor. Para o executivo, a ação visa “tapar a crise social e econômica” vivida pelo país. “Esta atuação não é própria de um país moderno e o povo deste país merece outra coisa.”

A empresa anunciou também que reivindicará 10 bilhões de dólares nos mecanismos internacionais de proteção pela participação de 57,4% da Rapsol na YPF.

Segundo o presidente da Repsol, a campanha contra a empresa nas últimas semanas na Argentina foi “calculadamente planejada para provocar a queda da ação da YPF e facilitar a expropriação”, com preço reduzido. “É ilegítimo e injustificável”, disse.

O Ministério de Assuntos Exteriores espanhol reagiu convocando nesta terça-feira 17 o embaixador argentino em Madri, Carlos Bettini, após a decisão do governo de Cristina Kirchner.

Para Sauer, no entanto, a ação de Kirchner se alinha a outras encaminhadas por vizinhos da América Latina, como ocorreu em Venezuela, Equador e Bolívia. “Há uma discussão na região sobre quem fica com a renda excedente do petróleo: os acionistas de empresas privadas, em grande parte multinacionais, ou as parcelas mais pobres da população.”

A medida da presidenta contra ativos espanhóis, destaca, não é inédita. O país já havia nacionalizado a Aerolineas Argentinas, por exemplo. Mas o caso da Repsol ganhou maior repercussão devido à situação econômica crítica da Espanha, que depende em grande parte das remessas ao exterior de investimentos na América Latina. “A Espanha tomou muito dinheiro emprestado na Europa para comprar ativos na região e tudo isso vem em um momento de crise violenta.”

Esse foi mais um golpe para a economia da espanhola, que voltou a cair na recessão após dois anos, conforme anunciou nesta terça-feira o presidente do Banco da Espanha, ao confirmar a manutenção da contração de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre de 2011.

Com informações AFP.

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A decisão do governo argentino de expropriar 51% das ações da petroleira YPF, filial do grupo espanhol Repsol, sob a alegação de que a empresa não estaria cumprindo o plano de investimento no país, retrata uma preocupação estratégica de longo prazo da presidenta Cristina Kirchner e, ao mesmo tempo, uma afirmação do orgulho nacional frente a empresas estrangeiras. É o que defende Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor da Petrobras.

Em entrevista a CartaCapital, o analista diz que as privatizações do setor petrolífero no governo de Carlos Menem coincidiram com a descoberta de muitos recursos, mas em um período em que a Agentina exportou petróleo com valores baixos. “O governo [atual] viu que abordagem neoliberal destruiu as riquezas nacionais e colocou o país sob a ameaça de ter que importar derivados.”

Neste cenário, Sauer acredita que a ação argentina não é irregular. “A soberania nacional permite que se nacionalize recursos, está previsto nas constituições dos países. Basta força política no Congresso para realizar essa manobra. Trata-se de escolhas, que vão ter mais ou menos apoio nas camadas sociais.”

O presidente da Repsol, o espanhol Antonio Brufau, no entanto, reagiu ao anúncio com furor. Para o executivo, a ação visa “tapar a crise social e econômica” vivida pelo país. “Esta atuação não é própria de um país moderno e o povo deste país merece outra coisa.”

A empresa anunciou também que reivindicará 10 bilhões de dólares nos mecanismos internacionais de proteção pela participação de 57,4% da Rapsol na YPF.

Segundo o presidente da Repsol, a campanha contra a empresa nas últimas semanas na Argentina foi “calculadamente planejada para provocar a queda da ação da YPF e facilitar a expropriação”, com preço reduzido. “É ilegítimo e injustificável”, disse.

O Ministério de Assuntos Exteriores espanhol reagiu convocando nesta terça-feira 17 o embaixador argentino em Madri, Carlos Bettini, após a decisão do governo de Cristina Kirchner.

Para Sauer, no entanto, a ação de Kirchner se alinha a outras encaminhadas por vizinhos da América Latina, como ocorreu em Venezuela, Equador e Bolívia. “Há uma discussão na região sobre quem fica com a renda excedente do petróleo: os acionistas de empresas privadas, em grande parte multinacionais, ou as parcelas mais pobres da população.”

A medida da presidenta contra ativos espanhóis, destaca, não é inédita. O país já havia nacionalizado a Aerolineas Argentinas, por exemplo. Mas o caso da Repsol ganhou maior repercussão devido à situação econômica crítica da Espanha, que depende em grande parte das remessas ao exterior de investimentos na América Latina. “A Espanha tomou muito dinheiro emprestado na Europa para comprar ativos na região e tudo isso vem em um momento de crise violenta.”

Esse foi mais um golpe para a economia da espanhola, que voltou a cair na recessão após dois anos, conforme anunciou nesta terça-feira o presidente do Banco da Espanha, ao confirmar a manutenção da contração de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre de 2011.

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