Política
Fiesp/ O golpe do pato
Josué Gomes resgatou o papel da federação das indústrias e acabou deposto


A turma do pato amarelo que, sob o comando de Paulo Skaf, tumultuou por meses a Avenida Paulista diante da sede da Fiesp e o ambiente político do País, no início contra aumentos de impostos e depois pela deposição de Dilma Rousseff, voltou ao poder, ao menos por enquanto. Na segunda-feira 16, o presidente Josué Gomes, representativo do capitalismo avançado no País, foi destituído em uma assembleia por dirigentes de sindicatos empresariais economicamente pouco expressivos, e com métodos no mínimo discutíveis.
Segundo Miguel Reale Jr., advogado de Gomes, “a destituição foi totalmente ilegal, um golpe” e será derrubada na Justiça. Já o economista Antonio Corrêa de Lacerda, integrante do Conselho da Fiesp até dezembro, quando passou a integrar a equipe de transição do governo, classifica a deposição como “lamentável, um golpe, uma fake news total, que não se sustenta de forma regimental e legal, uma patacoada”.
O principal, diz, é a dimensão política do fato. Josué estava fazendo um bom trabalho, resgatando o papel da Fiesp. Fortaleceu os departamentos técnicos, empoderou os conselhos consultivos e isso culminou com o convite do governo Lula para que ele assumisse o Ministério de Indústria e Comércio, uma demonstração do seu protagonismo e prestígio na indústria.
“Com a reconstrução do Ministério da Indústria e Comércio no novo governo, seria o momento de um posicionamento político mais atuante da Fiesp, mas a entidade perdeu-se em temas paroquiais”, lamenta Lacerda. “Considero um erro estratégico banal. Os empresários deveriam estar coesos no tema da reindustrialização”.
Volta por cima
Demitido do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) pelo então presidente Jair Bolsonaro, o físico Ricardo Galvão assumiu a presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, responsável pelo financiamento de pesquisas nas universidades brasileiras. Galvão dirigiu o Inpe por quatro anos, mas perdeu o cargo após revelar um desmatamento recorde na Amazônia, que o governo do ex-capitão insistia em negar. Formado em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense e doutor em Física pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, ele foi eleito, em 2019, um dos dez cientistas mais importantes em atividade pela revista Nature.
China/ O revide do vírus
Pequim anuncia quase 60 mil mortes por Covid em um mês
Os óbitos divulgados podem ser apenas uma fração da realidade – Imagem: Hector Retamal/AFP
Sob críticas de falta de transparência em relação à epidemia de Covid-19, a China anunciou, no sábado 14, quase 60 mil mortes relacionadas ao Coronavírus desde o afrouxamento das medidas sanitárias vigentes no país. Após três anos impondo restrições draconianas aos chineses, o que gerou uma onda de protestos populares, a nação asiática suspendeu abruptamente a maior parte delas no início de dezembro de 2022.
No mesmo mês, Pequim revisou sua metodologia de contagem de mortes por Covid-19. Agora, apenas óbitos por insuficiência respiratória causada pelo Coronavírus estão incluídos nas estatísticas oficiais. De acordo com Jiao Yahui, da Comissão Nacional de Saúde, foram registradas 5.503 mortes causadas “diretamente” pelo vírus e outras 54.435 provocadas por “doenças subjacentes combinadas com a Covid”. Mesmo a soma dos dois números está subestimada, por não incluir os óbitos fora de hospitais.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, criticou a nova metodologia. “Continuamos pedindo à China dados mais rápidos, regulares e confiáveis sobre hospitalizações e mortes.”
A fatura do clima
Em um painel no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cobrou o compromisso das nações desenvolvidas de repassarem aos países em desenvolvimento 100 bilhões de dólares para ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. “Temos boa regulação global, mas faltam os investimentos. Os 100 bilhões prometidos ainda não foram aportados”, lembrou a ministra, que também pediu mais empenho dos países ricos na redução das emissões de gases de efeito estufa e na substituição dos combustíveis fósseis por fontes de energia limpas e renováveis.
Ucrânia/ Desastre em jardim de infância
Queda de helicóptero mata o ministro do Interior e quatro crianças
As autoridades ucranianas suspeitam de sabotagem – Imagem: Sergei Supinsky/AFP
Um acidente de helicóptero em Brovari, a 20 quilômetros de Kiev, matou ao menos 17 pessoas, entre elas o ministro do Interior da Ucrânia, Denis Monastirski, na quarta-feira 18. A aeronave transportava altos funcionários do governo de Volodymyr Zelensky e despencou sobre um prédio de 14 andares e um jardim de infância. As autoridades ucranianas investigam as causas do desastre aéreo, e não descartam a possibilidade de sabotagem da Rússia, que invadiu o país em fevereiro do ano passado.
“A dor é indescritível”, afirmou Zelensky em comunicado divulgado pelo Telegram, acrescentando ter instruído os serviços de segurança, a polícia nacional e outras autoridades “a apurar todas as circunstâncias do sucedido”. Kyrylo Tymoshenko, vice-chefe do Gabinete da Presidência, acrescentou que nove dos mortos estavam a bordo do helicóptero. As demais vítimas foram atingidas em solo, entre elas quatro crianças.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1243 DE CARTACAPITAL, EM 25 DE JANEIRO DE 2023.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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