Política

‘Se eu propusesse intervenção federal antes, seria chamado de ditador’, diz Flávio Dino

Em entrevista à GloboNews, o ministro disse que ideia sobre omissão de sua parte em atos golpistas é ‘mentirosa’ e que Ibaneis cometeu ‘erro político’

‘Se eu propusesse intervenção federal antes, seria chamado de ditador’, diz Flávio Dino
‘Se eu propusesse intervenção federal antes, seria chamado de ditador’, diz Flávio Dino
O ministro da Justiça, Flávio Dino. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, rechaçou a hipótese de que tenha se omitido diante de alertas antecipados sobre os ataques golpistas realizados em Brasília em 8 de janeiro.

Em entrevista à GloboNews, neste sábado 14, Dino admitiu que foi avisado sobre os atos golpistas com antecedência, mas alegou que não decretou intervenção federal antes porque a medida poderia ser vista como autoritária.

A declaração ocorre após a emissora divulgar, com base em documentos, que o ministro recebeu o alerta da Polícia Federal e comunicou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), com sugestões de providências.

Segundo ele, houve uma reunião dois dias antes dos atos em que o governo do Distrito Federal, que comanda a Polícia Militar, assumiu compromissos para a manutenção da ordem pública. No sábado anterior aos ataques, os compromissos teriam sido reiterados.

Ainda assim, o ministro diz ter enviado dois ofícios ao governo do DF na noite de véspera dos atos, um redigido por ele mesmo, e outro, pela Polícia Federal.

“Todo o Brasil sabia dessas convocações. Não é que eu soubesse, todo mundo sabia”, afirmou. “Não havia, até ali, nenhum elemento para haver uma intervenção federal, que é um remédio excepcional. Se eu propusesse isso antes, eu ia ser chamado de ditador.

Dino sustenta que “todos os alertas às autoridades competentes foram feitos” e argumentou que o Ministério da Justiça não tem o poder de realizar o policiamento ostensivo, e que esse papel é da Polícia Militar, conforme o Artigo 144 da Constituição Federal.

Além disso, Dino reforçou que a segurança dos prédios dos Três Poderes também não é da competência do seu Ministério, e sim, do Gabinete de Segurança Institucional, no caso do Planalto, da Polícia Legislativa, no caso do Congresso, e da Polícia Judiciária, no caso do Supremo Tribunal Federal. Esses órgãos não estão na pasta de Dino.

Essa ideia de que houve omissão do Ministério da Justiça é criminosa, é falsa, é uma ideia aliada de terroristas, visa garantir a impunidade de terroristas”, declarou. “É um ideia mentirosa. É uma ideia que não ajuda a apurar o principal, os verdadeiros responsáveis.”

Dino continuou:

A mulher estuprada não é culpada do estupro. E o que querem fazer é isto. Nós somos vítimas. Nós não somos autores de ilícito algum e estamos trabalhando há uma semana, de manhã, de tarde e de noite, para apurar, identificar e entregar ao Poder Judiciário os verdadeiros responsáveis.”

O ministro afirmou, ainda, que o policiamento do DF deveria ter sido reforçado e que, quando houve a intervenção federal, no meio da tarde daquele domingo, a PM passou para o comando da sua pasta e, rapidamente, controlou a situação. Segundo ele, na prática, a ação do Ministério da Justiça mostrou que a crise era “absolutamente evitável”.

Dino evitou fazer críticas a Ibaneis Rocha, mas lembrou que o próprio governador declarou, em depoimento à PF, que o plano de segurança pública do DF contra os atos golpistas não foi cumprido.

“Eu não posso afirmar que alguém cometeu um crime sem que a investigação esteja concluída. O que eu posso afirmar é que foi, no mínimo, um erro político do governador Ibaneis”, afirmou. “O problema é que o Anderson [Torres] já tinha antecedentes que estavam sob investigação.”

Rocha foi afastado do cargo por determinação do STF. A governadora substituta, Celina Leão (PP), defende o emedebista e afirma que houve repasse de informações equivocadas.

Neste sábado 14, o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, foi preso pela Polícia Federal, após o Judiciário compreender que houve descaso com a segurança durante os atos. Torres, que foi ministro de Jair Bolsonaro (PL), estava nos Estados Unidos durante os ataques.

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