Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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A bola não perdoa

Os resultados das oitavas de final espelham as escolhas estratégicas de cada comissão técnica e selam o destino das seleções

A bola não perdoa
A bola não perdoa
A chegada da Seleção Brasileira às quartas de final deu-se em grande estilo - Imagem: Nelson Almeida/AFP
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A chegada da Seleção Brasileira às quartas de final da Copa 2022 foi em alto estilo, em um torneio cheio de empates por zero a zero. As oitavas de final inauguraram uma fase de goleadas. A escolha das estratégias mostra a disposição de cada comissão técnica responsável pelos times. Os resultados espelham essas escolhas e vão selando o destino de suas seleções.

O jogo Brasil vs. Coreia do Sul, na segunda-feira 5, mostrou isso de forma categórica. Na expectativa de vencer, os coreanos optaram por sair atacando desde o início. Esperavam, dessa forma, evitar uma pressão constante do time brasileiro, valendo-se ainda da boa preparação física do seu elenco.

Mesmo tendo sido surpreendida logo de saída com um gol brasileiro, a Coreia seguiu firme em sua opção. Acabou sofrendo mais três, cravando sua derrota ainda no primeiro tempo.

Outra opção, mais lógica e mais frequentemente utilizada por equipes em reconhecida situação de inferioridade, teria sido “fechar-se em copas” e explorar os contra-ataques.

Além de dever-se à atuação primorosa da Seleção brasileira, o insucesso coreano reflete essa escolha estratégica que talvez técnicos mais calejados não fizessem. Essa situação toda está bem resumida na declaração do treinador croata ­Zlatko Dalic: “Dar espaço a um time assim não é uma coisa inteligente”.

A jogada do gol do Richarlison foi espetacular – na mais pura concepção da palavra – e desde seu malabarismo na ­disputa de bola na intermediária até o passe do zagueiro Marquinhos. Em tempo: o que Marquinhos estava fazendo na grande área adversária como se estivesse na sua? Prova da fluência do time brasileiro. Em seguida, surgem a “deixada” brilhante do Pombo e o passe lúcido de Thiago Silva para a conclusão do goleador sensacional.

Outro jogo instigante desta semana foi o Espanha contra Marrocos, na terça-feira 6. A seleção espanhola entrou para jogar uma partida “normal” – como se isso existisse em futebol. São incontáveis as vezes em que o futebol aprontou, principalmente quando se depara com a soberba – o que, diga-se, não foi o caso dos ibéricos.

Ciente não só de sua superioridade, mas credenciada pela maior goleada do torneio (7 a 1 contra a Costa Rica) e tratada como uma das favoritas ao título do Mundial, a Espanha mostrou uma apatia em campo que chegou às raias do incompreensível.

A seleção de Marrocos, por sua vez, foi completamente o oposto. Cumpriu à risca o figurino traçado e, ao contrário do que se previa, apresentou-se muito bem treinada. Teve, no fim, sua disciplina recompensada com os gols na disputa por ­pênaltis que lhe garantiu a vitória. O resultado acabou sendo a desmoralização do fanatismo pela posse de bola como valor absoluto.

Assim como a Coreia do Sul ignorou a sabedoria histórica de fechar a defesa, a Suíça, na partida contra Portugal, na terça-feira 6, também viu a catástrofe desabando sobre o time. Esse jogo dos “patrícios”, com seis gols marcados, vai entrar também para a história do futebol, por ter sido barrado o premiado Cristiano Ronaldo e ter entrado em seu lugar o jovem Gonçalo Ramos, que acabou garantindo um belo espaço em seu primeiro jogo pela seleção lusitana, com três belos gols.

Nesta Copa, que, provavelmente, será a derradeira para Messi e Neymar – e dois dos maiores expoentes desta geração –, surgem novos ídolos, como o português Gonçalo Ramos e o nosso Richarlison.

Quando esta coluna estiver sendo lida, já terá acontecido o jogo das quartas de final entre as seleções da Croácia e do Brasil, que, espero, terá sido vencido pelos canarinhos. Quem sabe vamos, assim, nos aproximando de botar a mão em mais um caneco nesta Copa do Catar. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1238 DE CARTACAPITAL, EM 14 DE DEZEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A bola não perdoa”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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