Política
Golpismo/ Malandro é malandro
E mané é mané, cantava Bezerra da Silva


A sorte do deputado federal Eduardo Bolsonaro é poder contar com a inteligência e a sagacidade dos apoiadores do clã. Nenhum patriota se deixa enganar pelas maledicências da mídia petista e comunista. O WhatsApp, o Telegram e o Twitter vieram libertá-los das amarras da manipulação. Aleluia. Mais uma vez, jornalistas venais tentaram semear a discórdia nas hostes bolsonaristas que permanecem, faça chuva ou sol, plantadas nas portas dos quartéis à espera de uma intervenção militar. Não, Bananinha, perdão, Eduardo, ao contrário das más línguas, não estava no Catar para se esbaldar nos estádios da Copa do Mundo, enquanto o Brasil segue prisioneiro da ditadura de Alexandre de Moraes. Esqueçam aquela foto na qual o filho Zero Dois de Bolsonaro aparece frenético, ao lado da mulher, durante o jogo do Brasil. Ouçamos o que tem a dizer o próprio parlamentar a respeito da viagem: “Vim ao Catar para distribuir pen drives sobre a situação do Brasil”. Missão ultrassecreta. O abnegado deputado não foge à luta. Sem reação dos militares, sem sinais extraterrestres, após o apelo intergaláctico de manifestantes no Rio Grande do Sul, Eduardo cruzou o mundo em busca do socorro dos xeques árabes, talvez na esperança de esbarrar em Peter O’Toole nas arquibancadas dos estádios e convencê-lo a liderar um bando de mujahedins em uma investida contra a posse de Lula. Embora não existisse computador na época de Lawrence das Arábias, os bolsonaristas reconheceram, comovidos, o gesto de desprendimento e coragem. Um deles chegou a escrever nas redes sociais: “Ele é rico, poderia estar surfando no Havaí, mas foi ao Catar”. Quanta dedicação à causa. O visionário Bezerra da Silva descreveu o fenômeno em samba e verso.
Fraude em Roraima
A Polícia Federal colocou na rua, na quarta-feira 30, a Operação Yoasi, que investiga desvios de remédios destinados a crianças yanomâmis. Mais de 10 mil menores teriam sido prejudicados pelo esquema. Um dos empresários envolvidos é alvo de outra investigação, por suspeita de apropriação de recursos públicos enviados para o combate à Covid-19. Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão. A lista de crimes inclui fraude em licitação, corrupção ativa e passiva e associação criminosa. As penas chegam a 35 anos de prisão.
Obituário/ Zemin, o revolucionário
O líder chinês transformou a economia do país
Zemin conduziu a China pelos trilhos da globalização – Imagem: Timothy A.Clary/AFP
Arquiteto do modelo de “socialismo de mercado” e da revolução econômica que catapultou a China à posição de potência global, Jiang Zemin faleceu aos 96 anos na quarta-feira 30. Sucessor de Deng Xiaoping, Zemin assumiu o poder no momento mais delicado do país, no fim do século passado, logo após os protestos e a dura repressão na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989. A foto de um homem diante de um tanque simbolizou à época não só a resistência ao autoritarismo, mas o que parecia ser o ocaso de mais uma nação comunista. Desde então, o Ocidente nunca deixou de vaticinar a decadência chinesa e os chineses nunca deixaram de provar, ano após ano, o equívoco ocidental. Sob o comando de Zemin, o país aproveitou o processo de globalização, cresceu a uma média espetacular de 10% ao ano, incorporou grande massa de cidadãos ao mercado de consumo, tornou-se a “fábrica” do mundo e caminha inexoravelmente para tomar dos Estados Unidos a bandeira imperial. “O camarada Jiang Zemin foi um líder excepcional, grande marxista, grande revolucionário proletário, estadista, estrategista militar e diplomata, líder excepcional do socialismo com características chinesas”, resume um comunicado oficial do governo.
Adeus a Dipp
Morreu na segunda-feira 28 Gilson Dipp, ministro aposentado do Superior Tribunal de Justiça. Nascido em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Dipp tinha 78 anos e deixa esposa e três filhos. A causa da morte não foi divulgada. Flávio Dino, ex-juiz, senador eleito e cotado para o Ministério da Justiça, elogiou o colega no Twitter: “Um grande amigo que tive na Magistratura, onde ele atuou com seriedade e verdadeiro compromisso patriótico”.
Educação/ Enquanto a Seleção jogava…
… O governo Bolsonaro passava a tesoura no MEC
O ministério reduz as universidades à mendicância – Imagem: Geraldo Magela/Ag.Senado
O futebol é o ópio do povo. A frase nunca fez tanto sentido quanto na segunda-feira 28. Enquanto os brasileiros roíam as unhas e os dedos diante da modorrenta exibição do Escrete Canarinho na vitória por 1 a 0 sobre a Suíça, o Ministério da Educação anunciava um novo corte nas verbas do setor. Será 1,68 bilhão de reais a menos. Do total, as universidades e institutos federais perderam 220 milhões, o que agrava a situação de penúria de instituições sem dinheiro para pagar as contas básicas de manutenção. É o segundo corte em dois meses. Em 4 de outubro, a tesourada do MEC havia suprimido cerca de 1 bilhão de reais das instituições de ensino superior. “Não conseguimos pagar as contas de água e luz há meses. Agora, os salários dos trabalhadores terceirizados podem faltar em pleno Natal”, escreveu no Twitter Denise Carvalho, reitora da UFRJ. A boa notícia, se assim podemos dizer, é que falta um mês para o fim do governo Bolsonaro.
EUA/ Jantar de aloprados
Trump encontra-se com supremacista branco e é criticado pelo partido
Imagem: Gage Skidmore
A captura do Partido Republicano por Donald Trump voltou a provocar fissuras na legenda. Após o resultado aquém do projetado nas eleições de meio mandato por culpa do ex-presidente, que bancou candidatos extremistas em vários estados e afastou eleitores moderados, alas republicanas estudam formas de impedir uma nova candidatura do magnata, em 2024. A pressão aumentou depois de um jantar de Trump com Nick Fuentes, supremacista branco, e o aloprado rapper Ye, ex-Kanye West. “Andar por aí com um supremacista antissemita e pró-Putin não é complicado. É indefensável”, disparou Liz Cheney, notória adversária do ex-presidente no partido e integrante do comitê da Câmara dos Representantes que investiga a invasão do Capitólio. Outros líderes partidários referendaram as críticas. Diante da reação, Trump jogou a culpa no rapper: “Kanye West me ligou para jantar em Mar-a-Lago. Pouco depois, apareceu de forma inesperada com três amigos, sobre os quais eu não sabia nada. O jantar foi rápido e desimportante”. Acredite quem quiser.
Multa na Meta
Empresa controladora do Facebook, a Meta recebeu uma multa de 265 milhões de euros (mais de 1 bilhão de reais) aplicada pela agência reguladora irlandesa em nome da União Europeia por não proteger de forma adequada os dados dos usuários. A Comissão de Proteção de Dados da Irlanda abriu a investigação em abril do ano passado, após a denúncia de hackeamento de mais de 530 milhões de informações de clientes da rede social.
Guerra/ Chamem o papa?
A Rússia elogia a oferta de mediação do Vaticano, mas…
O papa Francisco se oferece como mediador. Moscou e Kiev hesitam – Imagem: Irish Catholic Bishops/WMF18
O Kremlin afirmou ver com bons olhos a oferta do Vaticano de fornecer uma plataforma de negociação para o conflito na Ucrânia, mas desdenhou do interesse de Kiev em aceitar a proposta. “Damos as boas-vindas a essa vontade política, mas, dada a situação do lado ucraniano, essa iniciativa não tem como prosperar”, disse o porta-voz Dmitry Peskov. Em entrevista ao jornal italiano La Stampa, o papa Francisco reiterou a disposição da Igreja em mediar uma solução para o fim da invasão, iniciada há nove meses. O pontífice tem externado suas preocupações com a escalada da guerra e temores de um ataque nuclear. O conflito concentra-se neste momento na região de Kherson. Segundo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, os russos bombardearam 258 vezes cerca de 30 assentamentos na cidade. Miram, sobretudo, as instalações de energia. Os apagões tornaram-se corriqueiros. Segundo a Otan, Moscou usa o inverno como arma de guerra.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1237 DE CARTACAPITAL, EM 7 DE DEZEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Semana”
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