

Opinião
Quase em campo
Graças à constância das convocações ao longo do ciclo de preparação e eliminatórias, foram poucas as contestações sobre a lista de Tite


A Copa do Mundo do Catar começa no próximo fim de semana e, incrivelmente, só agora os jogadores vão se reunir. É algo inacreditável, se pensarmos em outros tempos, quando a Seleção se reunia meses antes do torneio.
Esta semana saiu, finalmente, a lista definitiva dos jogadores – pode haver, é claro, alguma mudança decorrente de recomendação médica.
Todavia, graças à constância das convocações ao longo de todo o ciclo de preparação e das eliminatórias, foram poucas as contestações. As críticas sobraram, especialmente, para Daniel Alves. Mas sua convocação me parece justificada pela manutenção do ambiente formado durante o ciclo.
Foi, no entanto, interessante a observação do Ronaldo Fenômeno sobre a ausência de jogadores muito jovens na lista de Tite. Ele disse que, se estivesse no lugar do técnico, chamaria Endrick, jovem atacante de apenas 16 anos do Palmeiras.
“Acho que é um menino com um futuro promissor demais, que já está atuando no profissional. Para ele seria uma experiência sensacional. Para o futuro da Seleção brasileira”, disse o ex-atacante, que participou de sua primeira Copa aos 17 anos, em 1994. A presença de jogadores muito jovens propiciaria, na visão de Ronaldo, a construção de uma ponte entre o ciclo atual e o próximo.
Pessoalmente, achei digna de admiração a convocação do Ricardo Gomes para a Comissão Técnica. É um ponto a favor da Seleção, dada sua capacidade extraordinária não só como treinador, mas também nas outras funções que exercera nos clubes pelo quais passou mundo afora. Isso, sem falar no melhor de tudo: o caráter impressionante do querido ex-companheiro de Fluminense.
A proximidade do início da Copa vem acompanhada de algumas críticas. Depois de o ex-presidente da Fifa Joseph Blatter afirmar que a escolha do país-sede foi “um erro”, dado seu tamanho reduzido, esta semana Pep Guardiola, treinador do Manchester City, disse que esta Copa, no meio do calendário, impede o descanso dos jogadores. “Se você se machuca contra o Brentford, isso não muda nada em relação à Premier League, mas você vai perder a Copa”, disse ele, referindo-se aos jogos que ainda serão disputados pela equipe inglesa antes do Mundial.
Mas agora só nos resta torcer para o sucesso da Seleção. Que ela nos traga vitórias importantes, assim como fizeram, recentemente, alguns atletas. O Brasil ganhou medalhas importantes com Rebeca Andrade e Arthur Nory, na ginástica, Rayssa Leal, no skate, Rafaela Silva, no judô, e Hugo Calderano, no tênis de mesa.
Enquanto isso, na política, estamos num período de transição, prosseguindo no processo de mudança, a despeito da insistência tresloucada de muitos fanatizados e alguns que se autoproclamam direitistas. Trata-se de conservadores que, na verdade, são tocados pelo terror absoluto ao comunismo.
O uso indiscriminado da imagem de Deus é, neste contexto, muito significativo. Ela quase sempre representa não uma força espiritual serena, mas sim o limite para a falta de argumentos razoáveis ao defender um ponto de vista. Assim, a intromissão da religião é, nesses termos, um nítido instrumento de dominação de contingentes de necessitados sem horizonte.
Neste momento, o nosso foco deve se concentrar na garantia da posse de Lula e na reconstrução da democracia. É uma tarefa gigante diante da herança largada por este período de obtusidade, que teve, como sabemos, consequências funestas.
Mas o novo ciclo que se inicia não deixará de ser mais uma oportunidade para – nunca é demais repetir – conquistar a independência de fato.
Não podemos mais nos dar ao luxo de sair do jugo de um para cair em outro. A diplomacia brasileira sempre foi craque em se desvencilhar dos adversários em situação de crise internacional. O desafio é grande, mas podemos, finalmente, alcançar a nossa liberdade.
E sabemos que, neste momento, a moeda mais rica existente está na Amazônia. Isso fica evidente com as manifestações de todos os dirigentes dos grandes países. A questão climática é central e terá de ser enfrentada.
Nesta semana, ocorreram eleições também nos Estados Unidos, sob grande preocupação, dada a pressão que o democrata Joe Biden vem sofrendo da parte do “Trumpalhão”.
Dentro das circunstâncias, o resultado foi o melhor possível, mas o presidente chegou a dizer, em sua campanha, que a democracia americana estava ameaçada. Não há melhor exemplo do nível de tensão na política mundial. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1234 DE CARTACAPITAL, EM 16 DE NOVEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Quase em campo”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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