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Heróis tombados

A pandemia provocou a morte de 4,5 mil profissionais da saúde no Brasil, revela estudo

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Os técnicos e auxiliares de enfermagem representam 70% das vítimas na área - Imagem: Breno Esaki/SS/GOVDF
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Mais de 4,5 mil profissionais da saúde morreram no enfrentamento ao período mais agudo da pandemia de Covid-19 no Brasil, entre março de 2020 e dezembro de 2021. O levantamento, que cruza dados produzidos pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério do Trabalho, foi encomendado pela Internacional de Serviços Públicos (PSI, na sigla em inglês) ao estúdio de inteligência de dados Lagom Data. Em seu relatório global, a organização denuncia o descaso das autoridades públicas em quatro países. Na companhia de Zimbábue, Paquistão e Tunísia, o Brasil foi escolhido justamente pela abordagem negacionista do governo de Jair Bolsonaro.

“Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas e medicamentos, mas sobraram mensagens falsas e desaforadas do governo sobre a Covid-19, chocando o mundo”, resume Rosa Pavanelli, secretária-geral da PSI, com sede em Genebra, e que integra a Comissão de Alto Nível da ONU sobre Emprego em Saúde. “Até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil.”

O número de mortes por Covid-19 na área da saúde foi, em média, 67% maior dos que os óbitos informados entre os que têm emprego formal. Quanto mais próximos aos pacientes esses profissionais trabalhavam, mais morriam: 70% das vítimas atuavam como técnicos e auxiliares de enfermagem, os postos mais modestos da saúde. Em seguida, vieram os enfermeiros (25%) e, por último, os médicos (5%). Na segmentação por gênero, oito em cada dez profissionais da saúde que não resistiram à Covid no País eram mulheres. Pudera, elas são a maioria da força de trabalho na área de enfermagem. Metade dessas profissionais tinha cor preta ou parda.

Os profissionais da saúde enfrentaram dois momentos distintos na pandemia. Em 2020, quando a doença ainda era pouco conhecida e faltaram equipamentos de proteção adequados nas unidades de saúde, eles chegaram a ter o dobro de mortes em relação à média dos dois anos anteriores. Em 2021, a despeito da piora dos índices de mortalidade no País, médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem tiveram prioridade na vacinação. Com isso, o número de óbitos nessas categorias começou a cair três meses antes do restante das profissões.

“O estudo retrata a forma criminosa como o governo Bolsonaro conduziu a pandemia de Covid. Em particular, o descaso que resultou na morte evitável de milhares de trabalhadores da saúde que atuaram na linha de frente”, avalia ­Arthur Chioro, ex-ministro da ­Saúde e colunista de ­CartaCapital. “É uma denúncia dolorosa, mas ao mesmo tempo necessária porque temos a chance de mudar o rumo dessa história. E uma forma de reconhecer aqueles que perderam suas vidas defendendo a vida dos brasileiros, que Bolsonaro desdenhou de forma inaceitável.” O Brasil, convém registrar, concentra mais de 10% do total de mortes por Covid-19 no mundo, embora represente apenas 2,7% da população mundial. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1230 DE CARTACAPITAL, EM 19 DE OUTUBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Heróis tombados”

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