Economia
‘Enquanto existir rota de fuga, medidas não surtirão efeito’
Para analista em contas públicas, Brasil precisa taxar investimento estrangeiro direto para barrar valorização do real e proteger indústria brasileira
“Enquanto existir uma rota de fuga, as medidas do governo não impedirão que o real continue se desvalorizando. Se os investimentos diretos estrangeiros também não forem taxados, as medidas serão insuficientes”. É o que afirma o mestre em economia e especialista em contas públicas, Amir Khair, em entrevista à CartaCapital sobre as medidas cambiais anunciadas durante a semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O ministro aumentou o tom das críticas à guerra cambial na quinta-feira 1 e saiu em defesa das ações do governo federal a fim de conter a valorização do real frente ao dólar. Para isso, a Fazenda optou por aumentar de dois para até três anos o prazo de incidência da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% nas operações de câmbio.
O ministro disse, no entanto, não cogitar a taxação do investimento estrangeiro direto. “Não fizemos isso agora e não pretendemos fazer.”
Veja abaixo a íntegra da entrevista:
CartaCapital: Como o senhor avalia as medidas adotadas pelo ministro?
Amir Khair: Mantega acerta ao defender as medidas, pois o Banco Central Europeu está inundando de euros o mercado. De 11 de dezembro para cá, já são 1 trilhão de euros e desde o começo da crise, 2,3 trilhões. O BC dos Estados Unidos também soltou uma imensa quantidade de dólares. O mercado está sendo inundando e, por isso, há uma alta liquidez. O capital procura os lugares em que ganha mais, logo, uma parte dessa enxurrada vai fluir para o Brasil. Caso nada seja feito, o dólar vai despencar para 1,50, 1,40, quando mal conseguimos competir com a moeda americana a 1,70. O ministro precisa tirar a fonte primária de atração, que é a alta taxa de juros oferecida aos aplicadores. Consegue-se isso taxando, mas sem deixar vias de escape. E a via que está sendo usada de forma grotesca – e o governo fecha os olhos para isso – são investimentos diretos estrangeiros. Sob esta rúbrica, os investidores entram sem pagar o IOF. Ou seja, havendo uma situação de alta atração para investimentos.
CC: Como as ações do governo federal podem surtir efeito?
AK: Depende da maneira como o governo “fecha a porteira” e de quanto vai taxar o ganho financeiro. Esta é a única forma de funcionar. O investidor pode continuar aplicando no Brasil e ganhando menos, o que ainda assim é vantajoso porque nos mercados desenvolvidos o ganho será negativo.
CC: Qual o perigo desta guerra cambial para o Brasil?
AK: A balança comercial. O Brasil possui uma conta externa complicada e há o risco de redução das exportações e aumento de importações, criando um rombo nas contas. Além disso, existe repercussão para as empresas locais que não conseguem competir com o dólar a 1,70. Logo, se o real se valorizar ainda mais, muitas empresas brasileiras vão fechar as portas.
“Enquanto existir uma rota de fuga, as medidas do governo não impedirão que o real continue se desvalorizando. Se os investimentos diretos estrangeiros também não forem taxados, as medidas serão insuficientes”. É o que afirma o mestre em economia e especialista em contas públicas, Amir Khair, em entrevista à CartaCapital sobre as medidas cambiais anunciadas durante a semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O ministro aumentou o tom das críticas à guerra cambial na quinta-feira 1 e saiu em defesa das ações do governo federal a fim de conter a valorização do real frente ao dólar. Para isso, a Fazenda optou por aumentar de dois para até três anos o prazo de incidência da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% nas operações de câmbio.
O ministro disse, no entanto, não cogitar a taxação do investimento estrangeiro direto. “Não fizemos isso agora e não pretendemos fazer.”
Veja abaixo a íntegra da entrevista:
CartaCapital: Como o senhor avalia as medidas adotadas pelo ministro?
Amir Khair: Mantega acerta ao defender as medidas, pois o Banco Central Europeu está inundando de euros o mercado. De 11 de dezembro para cá, já são 1 trilhão de euros e desde o começo da crise, 2,3 trilhões. O BC dos Estados Unidos também soltou uma imensa quantidade de dólares. O mercado está sendo inundando e, por isso, há uma alta liquidez. O capital procura os lugares em que ganha mais, logo, uma parte dessa enxurrada vai fluir para o Brasil. Caso nada seja feito, o dólar vai despencar para 1,50, 1,40, quando mal conseguimos competir com a moeda americana a 1,70. O ministro precisa tirar a fonte primária de atração, que é a alta taxa de juros oferecida aos aplicadores. Consegue-se isso taxando, mas sem deixar vias de escape. E a via que está sendo usada de forma grotesca – e o governo fecha os olhos para isso – são investimentos diretos estrangeiros. Sob esta rúbrica, os investidores entram sem pagar o IOF. Ou seja, havendo uma situação de alta atração para investimentos.
CC: Como as ações do governo federal podem surtir efeito?
AK: Depende da maneira como o governo “fecha a porteira” e de quanto vai taxar o ganho financeiro. Esta é a única forma de funcionar. O investidor pode continuar aplicando no Brasil e ganhando menos, o que ainda assim é vantajoso porque nos mercados desenvolvidos o ganho será negativo.
CC: Qual o perigo desta guerra cambial para o Brasil?
AK: A balança comercial. O Brasil possui uma conta externa complicada e há o risco de redução das exportações e aumento de importações, criando um rombo nas contas. Além disso, existe repercussão para as empresas locais que não conseguem competir com o dólar a 1,70. Logo, se o real se valorizar ainda mais, muitas empresas brasileiras vão fechar as portas.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.



