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‘Mas eu te fiz um milionário!’

Tudo ou Nada reconstitui a trajetória rocambolesca e a derrocada de Eike Batista

‘Mas eu te fiz um milionário!’
‘Mas eu te fiz um milionário!’
O papel do empresário anti-herói coube a Nelson de Freitas - Imagem: Desirée do Valle/Star Productions
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A história de Eike Batista, empresário que, em 2012, foi apontado como o sétimo homem mais rico do mundo e cinco anos depois estava preso, poderia ser definida, em uma roda banal de conversa, como um daqueles enredos que dariam um filme. Mas o desafio, em casos assim, é justamente transformar episódios fartamente conhecidos e acontecimentos excessivamente rocambolescos em uma boa trama cinematográfica. Os produtores e ­realizadores de Eike – Tudo ou Nada, em cartaz nos cinemas brasileiros desde a quinta-feira 22, encararam o desafio.

O filme se baseia no livro Tudo ou Nada – Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X (Companhia das Letras, 536 págs., 109,90 reais), de Malu Gaspar. A partir dos fatos descritos pela jornalista, a dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade, que assina roteiro e direção, teceu um fio dramático que recupera a infância do personagem vivido por Nelson de Freitas – em uma ótima interpretação.

O recurso, consagrado desde o rosebud de Cidadão Kane, não tem nada de original, mas é eficaz do ponto de vista narrativo e verossímil do ponto de vista psicanalítico. A presença do menino Eike, carente e talhado para vencer, humaniza o adulto voraz e permite a identificação do espectador com esse anti-herói que encontrou, na tessitura corrompida do Brasil, terreno fértil para suas ações.

A trama começa em 2006, o ano do Pré-sal, quando Eike, um empresário já então bem-sucedido, cria a petroleira OGX. A narração da empreitada é feita, em off, por Benigno (Thelmo Fernandes), seu amigo e conselheiro. Essa opção faz com que Eike, embora seja o protagonista, saiba menos o que está acontecendo do que nós, espectadores.

Sua derrocada é anunciada logo no início do filme, o que faz com que uma sensação de espanto e desconcerto nos acompanhe a cada novo movimento do empresário ou a cada novo lote de ações comprado na Bolsa de Valores pelo homem de classe média que sonha enriquecer com a OGX.

A velocidade com que se deram o sucesso e o fracasso de Eike é traduzida, na tela, por um entra e sai de salas, de reuniões e de entrevistas – que reproduz o clima típico de algumas produções da Netflix, como Os Sete de Chicago e Não Olhe para Cima – e pela intervenção de letras e cifrões na tela.

O dinheiro, que fez a fama e a desgraça de Eike, é outro personagem central de Tudo ou Nada. Quando o barco começa afundar e alguns executivos se afastam da OGX, Eike repete: “Mas eu te fiz um milionário!” Seu aspecto caricatural, parece querer nos dizer o filme, é um espelho da nossa sociedade. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1227 DE CARTACAPITAL, EM 28 DE SETEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ““Mas eu te fiz um milionário!””

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