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Xi e a economia da China

O próximo congresso do Partido Comunista vai definir as prioridades estratégicas do país

Xi e a economia da China
Xi e a economia da China
Imagem: Kuhn Foundation e Nicolas Asfouri/AFP
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Como a China se prepara para o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista, o evento mais importante do calendário político do ­país, realizado a cada cinco anos? Para começar, devemos observar os chamados “Dois Estabelecimentos” – Xi Jinping como “núcleo” do partido e, portanto, o líder incontestável, e sua teoria política como a base da ideologia da legenda.

Desde o 19º Congresso Nacional do Partido, em 2017, a teoria política do líder é conhecida como o “Pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era”, uma longa frase com cada palavra a carregar um significado. Neste e nos próximos artigos sobre a próxima “mensagem profunda” procuro discernir as características distintivas das principais áreas a serem abordadas. O pano de fundo permite uma leitura atenta dos debates políticos do próximo congresso.

Começo com o “Pensamento de Xi ­Jinping sobre a Economia”. A China tornou-se a segunda maior economia do mundo, o segundo maior mercado consumidor, o maior país manufatureiro, o maior no comércio de mercadorias e o maior em reservas cambiais. O PIB da China mais do que dobrou, de cerca de 54 trilhões de iuans em 2012 para mais de 114 trilhões em 2021, e sua proporção na economia mundial aumentou de 11,4% para mais de 18%. O PIB per capita passou de 6,3 mil para 12,5 mil dólares.

Podemos resumir o pensamento sobre a economia nos seguintes pontos:

Objetivos econômicos

O grande rejuvenescimento da China, nação socialista totalmente modernizada;

Altos padrões de vida, com prosperidade comum para todos, de modo que as lacunas entre os povos sejam reduzidas;

Liderança mundial em ciência, tecnologia e inovação, bem como em manufatura.

Princípios econômicos

Liderança partidária da economia. A economia é o trabalho central do partido;

Filosofia de desenvolvimento centrada nos indivíduos, para que se sintam ­realizados, felizes e seguros;

Novo estágio de desenvolvimento, do crescimento de alta velocidade para o desenvolvimento de alta qualidade;

Economia de mercado socialista, com o mercado a desempenhar um papel na alocação de recursos e o governo, na inteligência da supervisão;

Alavancagem do poder do capital para catalisar as forças produtivas, ao mesmo tempo que o Estado regula e restringe a “expansão desordenada do capital”;

Propriedade mista de empresas, com forte setor estatal e modernos sistemas de gestão;

Autoconfiança nacional e autoaperfeiçoamento.

Estratégias econômicas

Ampliar a demanda doméstica e estimular o consumo, com o mercado interno como principal fonte e o comércio interno e internacional a promover um ao outro;

Elevar os padrões de vida nas áreas rurais e aproximá-los das áreas urbanas;

Inovação local, especialmente para tecnologias que podem gerar gargalos, entre elas semicondutores, para resistirem a pressões externas ou incertezas;

Redução de riscos por meio de reforma estrutural do lado da oferta, desalavancagem financeira, segurança alimentar, energética, da cadeia de suprimentos e da informação e estabilidade de preços;

Promoção de tecnologias verdes, de energias alternativas a veículos elétricos;

Tecnologia da informação de estresse e e-commerce;

Mercado nacional unificado para eficiência produtiva.

A base original do pensamento de Xi Jinping é o novo conceito de desenvolvimento, que tenho acompanhado desde a sua criação, em 2016, quando era conhecido como os “Cinco Grandes Conceitos de Desenvolvimento”: inovação, coordenação, verde, aberto e compartilhamento.

O “desenvolvimento inovador” ocupa pela primeira vez o topo das prioridades: inovação, obviamente, em ciência e tecnologia, mas também em serviços, gestão, processos, branding e marketing.

O “desenvolvimento coordenado” busca eficiências por meio da integração regional. O “desenvolvimento verde” eleva a civilização ecológica e o controle da poluição à mais alta importância nacional.

O  “desenvolvimento aberto” é exemplificado pelas zonas de livre-comércio da China, a iniciativa Cinturão e Rota, a Iniciativa de Desenvolvimento Global, empresas estrangeiras que chegam à China e empresas chinesas que vão para o exterior. O “desenvolvimento compartilhado” significa reduzir os desequilíbrios entre os setores urbano e rural e entre as regiões costeiras e interiores. O compartilhamento vem por último não porque seja menos importante, mas por requerer o sucesso prévio dos quatro primeiros conceitos.

A visão do pensamento de Xi Jinping sobre a economia é clara. Seu teste serão os resultados contínuos. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1226 DE CARTACAPITAL, EM 21 DE SETEMBRO DE 2022.

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