

Opinião
Atletas tipo exportação
A atual direção do Botafogo pretende formar a melhor base do futebol brasileiro. Mas isso será feito com qual propósito?


Vivemos dias de definições em todos os campos. O momento nos traz oportunidades extraordinárias para a nossa libertação definitiva e contribui para um mundo equilibrado, uma vez que os desacertos políticos fazem do meio ambiente um problema crucial. A guerra na Ucrânia prolonga-se e, aos poucos, perde espaço no noticiário. Triste ver um conflito armado sendo normalizado. E nós, por aqui, a desperdiçar tempo vendo a banda passar. Lá se foi mais um 7 de Setembro. Independência, que é bom, nada. Só o desfile fantasioso e vazio de qualquer consistência.
A turma parecia vestida para aquelas célebres “palestras motivacionais”, que mais se assemelham a cultos fanatizantes. Vamos em frente, que não há tempo a perder. Precisamos ficar livres de tanta desgraça, o quanto antes. No dia a dia, “a gente vai levando”, como sugeriu Chico Buarque em tempos bicudos. Viveremos um calendário intenso até o fim do ano: eleições, Copa do Mundo, Natal e Réveillon. Em meio a tantos acontecimentos, as competições esportivas vão sendo decididas uma em cima da outra. A Libertadores, torneio mais importante deste lado do mundo, terá dois rubro-negros na final: Athletico Paranaense e Flamengo.
Na Sul-Americana, o equatoriano Independiente del Valle aguarda a definição do adversário na decisão. São Paulo e Atlético Goianiense enfrentam-se na quinta-feira 8, às 21h30, após o fechamento desta edição. Quando o leitor folhear a revista, certamente já saberá quem chegou à final.
O nosso campeonato mais importante, o Brasileirão, mostra o contorno das transformações surgidas no decorrer da temporada, que começou com quatro favoritos: Palmeiras, Flamengo, Atlético Mineiro e Athletico Paranaense. Clubes com diferentes trajetórias na competição e vivendo o momento de modo igualmente distinto.
O Palmeiras iniciou como o mais cotado, foi perdendo fôlego nas outras competições. Agora, o alviverde paulista lidera com boa vantagem. O Brasileirão deve salvar o ano para o time.
O clube mineiro parecia folgado em seu conjunto, agora caminha claudicante para a reta final. Quem foi subindo aos poucos e, no momento, aparece forte é o Athletico Paranaense, que andou tropeçando e recorreu à experiência de Felipão para se estabilizar. O time chegou à final da Libertadores, uma decisão entre dois times brasileiros.
Na difícil transição do elenco desgastado pelo tempo, o Flamengo, que se mostrava confuso no acomodado costume brasileiro de resolver maus momentos trocando treinadores, equilibrou-se chegando à terceira final de Libertadores, com o melhor grupo de jogadores, em número e em qualidade, para cumprir o calendário estafante.
No meio disso tudo, a (des)organização geral acena com a possibilidade de entendimento entre os dois grupos que pretendem formar a Liga Independente, o Forte Futebol e a Libra. Eles buscam acomodar a situação de promoverem o campeonato brasileiro, deixado de mão pela CBF, mas emperrado nos valores da distribuição das arrecadações.
Por cima de tudo, avança a transformação dos clubes em Sociedades Anônimas do Futebol, as ditas SAFs. Vemos o caso do Atlético Mineiro, que anunciou ter a maior dívida entre os times brasileiros, e agora arruma uma saída. Esse é o grande dilema dos nossos clubes. As notícias dão conta de que nem sempre a simples transformação em SAF é possível, e citam numerosos casos de bancarrotas pelo mundo.
O que causou maior impressão nestes dias foi a apresentação do Botafogo em seu confronto com o Fortaleza, com uma postura completamente nova. Em tão pouco tempo, um grupo totalmente renovado brilhou. Fica a expectativa da manutenção dessa mesma postura ao longo da temporada, A confiança no planejamento tem permitido a manutenção do técnico, mesmo diante da irregularidade na campanha do alvinegro.
Chamou atenção a entrevista revelando que a direção atual quer fazer do Botafogo a melhor base do futebol brasileiro. Passa a ideia da criação de um entreposto, um celeiro de atletas do tipo exportação. Eis o reflexo do avanço da globalização no mundo do esporte. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1225 DE CARTACAPITAL, EM 14 DE SETEMBRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Atletas tipo exportação”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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