Economia
O continente perdido
O rebaixamento generalizado evidencia ao mundo a verdadeira dimensão da crise internacional


Por mais de um ano, a partir dos primeiros sinais da crise financeira europeia, sua verdadeira amplitude foi mascarada pela insistência de políticos, analistas e jornalistas em falar de crise grega e insistir em metáforas sobre as tragédias gregas e as ruínas de Atenas. Quando o foco passou a ser a Itália, lembrou-se Nero a tocar cítara enquanto Roma queimava, mas foram rápidas demais a queda de Silvio Berlusconi e a expansão óbvia da crise para o resto da Europa.
Para quem aprecia metáforas literárias, talvez seja a hora de lembrar a Atlântida, o continente que, no mito inventado por Platão, foi condenado pelo Olimpo a afundar no oceano. Segundo seu Crítias, os atlantes “davam a impressão de ser extremamente belos e felizes, mas estavam impregnados de avareza e arrogância. O deus dos deuses decidiu aplicar-lhes uma punição, para que eles se tornassem razoá-veis e moderados”. As divindades hoje não se chamam Zeus, Poseidon e Hades, mas Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch. E como os velhos deuses, essas agências são ainda mais avarentas e arrogantes que aqueles que condenam a um afundamento que, embora metafórico, tem consequências bem reais para suas vítimas.
As dívidas da França, da Áustria e do fundo europeu de resgate foram rebaixadas de AAA para AA+, a da Eslovênia, de AA- para A+, a da Eslováquia, de A+ para A, e a de Malta, de A para A-, um grau cada uma. Outras dívidas foram rebaixadas em dois graus: Espanha, de AA- para A; Itália, de A para BBB+; Chipre, de BBB para BB+, e Portugal, de BBB- para BB. Ficaram inalteradas, entre outras, as classificações de Alemanha, Finlândia, Holanda e Luxemburgo (AAA), da Bélgica (AA), Estônia (AA-), Irlanda (BBB+) e Grécia (CC), mas todos, salvo Alemanha e Eslováquia, com viés negativo e possível rebaixamento em até dois anos. Vale lembrar que títulos abaixo de BBB- são considerados especulativos – junk ou “lixo”, no jargão financeiro –, impróprios para investimento a longo prazo (a do Brasil é BBB, com perspectiva estável).
*Leia matéria completa na Edição 681 de CartaCapital, já nas bancas.
Por mais de um ano, a partir dos primeiros sinais da crise financeira europeia, sua verdadeira amplitude foi mascarada pela insistência de políticos, analistas e jornalistas em falar de crise grega e insistir em metáforas sobre as tragédias gregas e as ruínas de Atenas. Quando o foco passou a ser a Itália, lembrou-se Nero a tocar cítara enquanto Roma queimava, mas foram rápidas demais a queda de Silvio Berlusconi e a expansão óbvia da crise para o resto da Europa.
Para quem aprecia metáforas literárias, talvez seja a hora de lembrar a Atlântida, o continente que, no mito inventado por Platão, foi condenado pelo Olimpo a afundar no oceano. Segundo seu Crítias, os atlantes “davam a impressão de ser extremamente belos e felizes, mas estavam impregnados de avareza e arrogância. O deus dos deuses decidiu aplicar-lhes uma punição, para que eles se tornassem razoá-veis e moderados”. As divindades hoje não se chamam Zeus, Poseidon e Hades, mas Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch. E como os velhos deuses, essas agências são ainda mais avarentas e arrogantes que aqueles que condenam a um afundamento que, embora metafórico, tem consequências bem reais para suas vítimas.
As dívidas da França, da Áustria e do fundo europeu de resgate foram rebaixadas de AAA para AA+, a da Eslovênia, de AA- para A+, a da Eslováquia, de A+ para A, e a de Malta, de A para A-, um grau cada uma. Outras dívidas foram rebaixadas em dois graus: Espanha, de AA- para A; Itália, de A para BBB+; Chipre, de BBB para BB+, e Portugal, de BBB- para BB. Ficaram inalteradas, entre outras, as classificações de Alemanha, Finlândia, Holanda e Luxemburgo (AAA), da Bélgica (AA), Estônia (AA-), Irlanda (BBB+) e Grécia (CC), mas todos, salvo Alemanha e Eslováquia, com viés negativo e possível rebaixamento em até dois anos. Vale lembrar que títulos abaixo de BBB- são considerados especulativos – junk ou “lixo”, no jargão financeiro –, impróprios para investimento a longo prazo (a do Brasil é BBB, com perspectiva estável).
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