Política

Subdesenvolvido, sim senhor!

Gastamos horrores para reformar estádios e, ao mesmo tempo, deixamos às traças os hospitais e as universidades públicas

Subdesenvolvido, sim senhor!
Subdesenvolvido, sim senhor!
Foto de “Acorda Cidadão – Movimento de Cidadania e Politização”
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“O Brasil é uma terra de amores,


Alcatifada de flores,


Onde a brisa fala amores,


Nas lindas tardes de abril.


Correi pras bandas do Sul.


Debaixo de um céu de anil,


Encontrareis um gigante deitado:


Santa Cruz, hoje o Brasil.

Mas um dia o gigante despertou (ooaahhh!).


Deixou de ser gigante adormecido.


E dele um anão se levantou.


Era um país subdesenvolvido


Subdesenvolvido, subdesenvolvido, subdesenvolvido, subdesenvolvido (bis)…”

Na época do Golpe de Estado de 1964, no Brasil, esta música tornou-se muito popular entre os estudantes. Tinha até um disco em vinil (não havia CD, meninos) de 45 rpm, daqueles pequeninos, que circulava de mão em mão, escondido, porque quem fosse apanhado com ele, poderia ir preso. A música foi considerada subversiva pela ditadura – só porque debochava do subdesenvolvimento do país.

Agora, passadas quase cinco décadas, proponho que deixemos de hipocrisia, daquelas frases altissonantes tipo “Brasil Grande”, “Brasil, o país do futuro”, “Já somos Primeiro Mundo”, “Nosso PIB é maior que o da Inglaterra” e similares, tão ou mais calhordas que elas. Seja lá qual for o nome que tenhamos desde o Descobrimento – Ilha de Vera Cruz,Terra de Santa Cruz, Brasil, Estados Unidos do Brasil, República Federativa do Brasil, Belíndia, Momolândia, Pindorama – o fato inescapável é que o Brasil é, sim, um país subdesenvolvido.

Senão, vejamos: gastamos horrores para reformar estádios de futebol de escassa utilidade no futuro – como no caso do Maracanã – e, ao mesmo tempo, deixamos às traças, do outro lado da rua, uma universidade pública, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e nada fazemos para impedir seu hospital pegar fogo. Isso é subdesenvolvimento, sim, sem eufemismos ou meias palavras.

País que constrói uma Cidade da Música, um prédio faraônico e inútil na Barra da Tijuca, também no Rio, e não ensina nem flauta doce às crianças das escolas públicas, é subdesenvolvido, sim.

País, cuja população que trabalha nas charmosas pousadas do Nordeste para atender ao mais exigente turista, mora em casa com esgoto a céu aberto, é subdesenvolvido sim.

Antes de mandar suas tropas para o Haiti, para posar de potência mundial, e de os nossos guias e líderes tirarem foto ao lado de outras excelências dos “G vintes”, “G oitos”, Brics e Bracs, e outras siglas tapeadoras, país desenvolvido faz o dever de casa, garante a segurança no seu território e não se torna liderado por outros, menos desenvolvidos e aos quais deveria liderar.

O Brasil era subdesenvolvido antes e continua sendo subdesenvolvido agora e, do jeito que as coisas vão, continuará subdesenvolvido por muito tempo.

Que me perdoem os antigos e os novos ufanistas de plantão. Os que, à maneira do dr. Pangloss, de Voltaire, acham que vivemos no melhor dos mundos; os que embarcaram de cabeça na já célebre teoria da marolinha. A esses recomendo, com entusiasmo, a qualificação do nunca assaz louvado Ivan Lessa: isto aqui é mesmo o Bananão!

Terei voltado a ser um subversivo nesta República de Bananas que é hoje uma das maiores economias do planeta com um Índice de Desenvolvimento Humano similar ao de países considerados por nós mesmos como muito pobres?

“O Brasil é uma terra de amores,


Alcatifada de flores,


Onde a brisa fala amores,


Nas lindas tardes de abril.


Correi pras bandas do Sul.


Debaixo de um céu de anil,


Encontrareis um gigante deitado:


Santa Cruz, hoje o Brasil.

Mas um dia o gigante despertou (ooaahhh!).


Deixou de ser gigante adormecido.


E dele um anão se levantou.


Era um país subdesenvolvido


Subdesenvolvido, subdesenvolvido, subdesenvolvido, subdesenvolvido (bis)…”

Na época do Golpe de Estado de 1964, no Brasil, esta música tornou-se muito popular entre os estudantes. Tinha até um disco em vinil (não havia CD, meninos) de 45 rpm, daqueles pequeninos, que circulava de mão em mão, escondido, porque quem fosse apanhado com ele, poderia ir preso. A música foi considerada subversiva pela ditadura – só porque debochava do subdesenvolvimento do país.

Agora, passadas quase cinco décadas, proponho que deixemos de hipocrisia, daquelas frases altissonantes tipo “Brasil Grande”, “Brasil, o país do futuro”, “Já somos Primeiro Mundo”, “Nosso PIB é maior que o da Inglaterra” e similares, tão ou mais calhordas que elas. Seja lá qual for o nome que tenhamos desde o Descobrimento – Ilha de Vera Cruz,Terra de Santa Cruz, Brasil, Estados Unidos do Brasil, República Federativa do Brasil, Belíndia, Momolândia, Pindorama – o fato inescapável é que o Brasil é, sim, um país subdesenvolvido.

Senão, vejamos: gastamos horrores para reformar estádios de futebol de escassa utilidade no futuro – como no caso do Maracanã – e, ao mesmo tempo, deixamos às traças, do outro lado da rua, uma universidade pública, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e nada fazemos para impedir seu hospital pegar fogo. Isso é subdesenvolvimento, sim, sem eufemismos ou meias palavras.

País que constrói uma Cidade da Música, um prédio faraônico e inútil na Barra da Tijuca, também no Rio, e não ensina nem flauta doce às crianças das escolas públicas, é subdesenvolvido, sim.

País, cuja população que trabalha nas charmosas pousadas do Nordeste para atender ao mais exigente turista, mora em casa com esgoto a céu aberto, é subdesenvolvido sim.

Antes de mandar suas tropas para o Haiti, para posar de potência mundial, e de os nossos guias e líderes tirarem foto ao lado de outras excelências dos “G vintes”, “G oitos”, Brics e Bracs, e outras siglas tapeadoras, país desenvolvido faz o dever de casa, garante a segurança no seu território e não se torna liderado por outros, menos desenvolvidos e aos quais deveria liderar.

O Brasil era subdesenvolvido antes e continua sendo subdesenvolvido agora e, do jeito que as coisas vão, continuará subdesenvolvido por muito tempo.

Que me perdoem os antigos e os novos ufanistas de plantão. Os que, à maneira do dr. Pangloss, de Voltaire, acham que vivemos no melhor dos mundos; os que embarcaram de cabeça na já célebre teoria da marolinha. A esses recomendo, com entusiasmo, a qualificação do nunca assaz louvado Ivan Lessa: isto aqui é mesmo o Bananão!

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