Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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A força dos vencedores

Após mais um ouro, a nadadora Ana Marcela Cunha resumiu, de forma simples, onde moram os triunfos: “O querer faz a diferença”

A força dos vencedores
A força dos vencedores
Ana Marcela venceu, pela quinta vez, os 25 quilômetros no mundial de maratonas aquáticas - Imagem: Unisanta
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Vem do esporte uma das ideias mais significativas que ouvi nos últimos tempos. Ana Marcela Cunha, que fez história na semana passada ao conquistar, pela quinta vez seguida, o ouro na prova de 25 quilômetros no mundial de maratonas aquáticas, deixou escapar, do fundo da simplicidade das grandes almas, a sentença dos seus triunfos: “O querer faz a diferença”.

Tudo que se procura, por vezes, explicar em quilômetros de palavras foi sintetizado na expressão da admirável Ana Marcela. De forma simples, ela nos mostra de onde vem a força dos grandes vencedores em todos os campos da vida.

No esporte brasileiro, partindo do geral, discute-se agora um Projeto Nacional do Desporto aprovado na Câmara dos Deputados e enviado ao Senado. Convém acompanhar de perto para saber suas pretensões.

Há anos, defendemos a ideia da elaboração de um sistema unificado para o Esporte brasileiro, assim como foi construído o Sistema Único de Saúde (SUS), que tem demonstrado seu valor em tempos de crise sanitária, como esta provocada pela Covid-19.

A necessidade de uma definição mais clara na forma como o Brasil pensa suas atividades esportivas, em todos os níveis, é comprovada pela sequência de remendos que são feitos, desde sempre, na tentativa de se compensar os buracos que aparecem no caminho dos interessados em qualquer que seja a prática.

No futebol, especificamente, trava-se agora a disputa entre Libra vs. Forte Futebol. Trata-se, em principio, de uma discussão relativa aos interesses dos clubes mais ricos e aqueles dos menos poderosos. A tendência é chegarem a um acerto de valores e tudo fica resolvido.

Com a bola no chão, entrando em julho, abrem-se as “janelas” de transferências encabeçadas pelo calendário europeu. Enquanto seguem as férias dos jogadores, muitos deles se valem do “Passe Livre” e podem, dessa forma, escolher o seu destino – a começar por Cristiano Ronaldo, cobiçado por vários clubes de primeira linha.

Vamos ver o que, disso, terá repercussão no nosso futebol, que anda tão necessitado. Outro dia, citei, a contragosto, um jogo do Vasco que foi de amargar. Esta semana foi a vez da disputa entre o Red Bull Bragantino e o Botafogo. A partida, que terminou em 1 a zero, com a vitória do time do Rio de Janeiro, foi horrível.

Parece que os times estão perdidos. Seguindo a linha da tal intensidade – que, entre nós, não passa de uma correria desenfreada –, eles fazem partidas nas quais o que mais falta é, justamente, futebol.

A supervalorização da preparação física, com os recursos atuais de musculação e afins, provoca um desgaste gigantesco e é, mais que isso, desnecessário. O futebol associado à “marcação alta”, como opção prioritária, não permite que o jogo se desenvolva. A cada 3 metros, a partida acaba sendo paralisada.

O jogo entre Bragantino e Botafogo foi tão ruim que provocou, em mim, a sensação inédita de me recusar a assistir no dia seguinte aos “melhores momentos”. O futebol jogado dessa forma torna-se, além de tudo, perigoso. É alto o risco de lesões graves, tamanha a repetição constante de choques violentos.

Por incrível que pareça, num jogo que teve inúmeros cartões e dois gols de uma mesma equipe anulados – fora outras encrencas – salvou-se o árbitro. No meio de tanta confusão, ele conseguiu manter a coerência até o fim, mesmo com o VAR mais tumultuando do que esclarecendo.

Enquanto se aguarda a Copa do Mundo, transferida para novembro, temos, entre os vários campeonatos disputados ao mesmo tempo, a Libertadores, que chega à fase de quartas de final e que teve, na terça-feira 5, uma partida épica. O Corinthians obteve uma classificação heroica em plena Bombonera, em Buenos Aires, com a vitória sobre o Boca Juniors nos pênaltis. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1216 DE CARTACAPITAL, EM 13 DE JULHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A força dos vencedores”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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