Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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As mulheres no futebol

Sigo com o sonho de uma seleção mista, pelo menos para começar a prática de um futebol sinfônico. Rafaelle e Debinha têm vaga garantida

As mulheres no futebol
As mulheres no futebol
Giovanna Waksman, meia-atacante do time misto sub-13 do Botafogo - Imagem: Vítor Silva/Botafogo
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Festejamos com alegria os 80 anos do imortal Gilberto Gil. Por maior que seja a Louvação, ela nunca será suficiente para exaltar uma pessoa que eleva a dignidade humana ao ponto mais alto.

Mesmo que ele não dissesse nada, seu trabalho, sua obra seria o atestado de sua dedicação em tempo integral ao caminhar transitório que a vida significa.

Ouvinte atento, nem mesmo a morte Gil se recusa a olhar de frente. Ele é um seguidor aplicado do mandamento do poeta Vinícius de Moraes em seu verso inspirado: A coisa mais bonita que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais.

Gil sempre teve a disposição para exercer essa dádiva em sua plenitude, em todas as direções. Sua curiosidade se posta diante de tudo: da matéria ao etéreo, do mais inocente sentimento à mais avançada das mais avançadas das ­tecnologias – do verso que tomo emprestado de Caetano Veloso.

Herdeiro de Luiz Gonzaga, Gil seguiu fielmente a voz do “espírito santo” Milton Nascimento sussurrando em seu ouvido: todo artista tem de ir aonde o povo está.

Gil percorreu sua trajetória sempre na estrada, viajando pelos sons de todos os tempos – da mansidão dos violões às estridentes guitarras elétricas –, ora montado em um carro de boi num lamento sertanejo, ora no Expresso 2222.

Nestes dias de polarização, em que até os conceitos de liberdade passam, inacreditavelmente, a ser discutidos, as pegadas deixadas pelo grande cantor e compositor baiano desanuviam completamente o horizonte pesado.

Posso ser suspeito para falar dele, mas ninguém é.

Comprovando a largueza de seu espírito, recebi sua fraternidade e sua solidariedade, por meio de sua sensibilidade e seu talento, na canção Meio de Campo. Foi um gesto de grandeza, em auxílio do amigo então envolto nas fumaças de suas batalhas quixotescas.

Fazer um gol nessa partida não é fácil, meu irmão. Foi o conselho sábio de quem trocou as luvas de goleiro da infância e da juventude pelas teclas do acordeão e as cordas da viola.

Querido amigo, todas as honras lhe são devidas. Aceite, de coração, aquele abraço.

No mundo do esporte, cessou a temporada europeia de futebol.

Enquanto a televisão não se cansa de mostrar esportes radicais em tempo de verão invejável, arrastamos a irregularidade própria da incerteza de dias difíceis aliviados por alguns resultados alentadores dos nossos atletas espalhados pelo mundo. Eles carregam nossa esperança, como agora no Mundial de Esportes Aquáticos.

No surfe, os brasileiros continuam mandando bem. Foram quatro vezes seguidas campeões em Saquarema.

Nas maratonas aquáticas, Ana Marcela Cunha ficou com o bronze nos 10 km feminino.

No futebol, uma das nossas principais atletas do futebol feminino, Giovanna Waksman, meia-atacante do Botafogo, única menina do time misto do sub-13, vai ficar afastada uns dias porque foi machucada por adversários inconformados que, na verdade, deveriam bater palmas à sua passagem.

Enquanto isso, sigo vivendo meu sonho de uma seleção mista, pelo menos para começar a prática de um futebol sinfônico.

Rafaelle e Debinha têm vaga garantida. Não me canso de ­vê-las jogar, tamanha a categoria e a alma que doam em cada disputa.

A seleção feminina, apesar de derrotada em amistosos preparatórios para a Copa América, escala a subida difícil enfrentando seleções de peso. Esse percurso trará evolução e amadurecimento para um time renovado. É hora de sofrer para alcançar objetivos maiores. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1215 DE CARTACAPITAL, EM 6 DE JULHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “As mulheres no futebol”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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