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Criptopânico

A montanha-russa das moedas digitais acelera e as insolvências se acumulam mundo afora

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Imagem: iStockphoto
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O mercado de criptomoedas poderia ter algum descanso, mas sua natureza de quebra de convenções significa que não há hiato. A negociação de ativos digitais como bitcoin e ­ethereum funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, ao contrário de seus pares convencionais em ações nas Bolsas de Valores de Nova York e de Londres, que ao menos têm folga no fim de semana.

Assim, uma semana tórrida tende a se deparar com outra para este mercado de ponta. O bitcoin, pedra angular da criptomoeda, caiu abaixo do nível chave de 20 mil dólares na manhã do sábado 18, queda de 34% em uma semana, de acordo com a CoinGecko, que mostrou que o ethereum, o outro pilar do mercado, caiu 40%, para 994 dólares, no mesmo período. Há temores de que a queda do bitcoin provoque mais vendas, levando a outros sete dias tumultuados para os ativos digitais.

Todo o mercado de criptomoedas caiu abaixo de 1 trilhão de dólares nos últimos dias, declínio vertiginoso em relação ao pico de 3 trilhões em novembro do ano passado. Vários fatores impulsionaram os declínios – uma mistura de eventos específicos de criptomoedas e questões macroeconômicas mais amplas – e alguns deles continuarão a pairar sobre o mercado. Na segunda-feira 13, a plataforma de empréstimo de criptomoedas Celsius Network interrompeu os saques por causa de “condições extremas de mercado”, levando a uma liquidação. A Celsius, uma empresa semelhante a um banco que oferece aos clientes altas taxas de juros em seus depósitos em criptomoedas, ainda não suspendeu as restrições às retiradas ou anunciou uma solução para seus problemas.

A Three Arrows Capital, fundo de ­hedge de criptomoedas que faz apostas altamente alavancadas em ativos criptográficos, também debate seu futuro depois de ser duramente atingido pela venda de ativos digitais. Em meio a rumores de insolvência, Zhu Su, o investidor de Dubai por trás da Three Arrows, tuitou: “Estamos no processo de comunicação com as partes relevantes e totalmente comprometidos em resolver isso”. Kyle Davies, cofundador da Three Arrows, foi mais otimista na declaração ao The Wall Street Journal:­ “Sempre acreditamos em criptomoedas e ainda acreditamos”, disse.

Para outros, há menos crença de que os problemas desaparecerão no curto prazo. A fé nas criptomoedas foi prejudicada no mês passado pelo colapso da terra, a chamada stablecoin, cujo valor deveria estar atrelado ao dólar. “Eu diria que a poeira ainda não baixou”, diz Teunis Brosens, economista-chefe de finanças digitais do banco holandês ING. “Os investidores podem continuar a agir em suas dúvidas e testar a estabilidade de várias ­stablecoins, plataformas e empresas de criptomoedas. Podemos ver mais baixas na forma de liquidez em certas moedas secando ­stablecoins perdendo sua indexação e fundos tendo que interromper resgates.”

Brosens acrescenta: “O bitcoin, de fato, hoje não é visto como uma reserva de valor à prova de inflação. Em vez disso, o bitcoin e a criptomoeda como um todo até agora se comportaram muito como ativos tradicionais de risco, recuando à medida que os temores de inflação e aumento de taxas crescem.” •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1214 DE CARTACAPITAL, EM 29 DE JUNHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Criptopânico”

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