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Detetives para todos os gostos

Grassa, na TV por assinatura, o confronto entre dois investigadores suecos de caráter e competência opostos

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Enquanto Bäckström (à esq.) adora aparecer, Wallander é dotado de uma discrição invulgar - Imagem: Fox e BBC One/Amazon Prime Video
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Na programação dos canais Film&Arts e Eurochannel, bons seriados tchecos, suecos e ingleses distinguem-se pela qualidade. No caso do seriado do Eurochannel, sueco, grassa neste momento o confronto entre dois detetives de caráter e competência opostos. O antigo, Wallander, é chefe­ de polícia em uma cidade menor do país escandinavo. O outro, recentíssimo, chama-se Bäckström, apresentado como típico investigador sueco por causa da sua atua­ção a bem do segredo de ofício.

Bäckström, entretanto, é o oposto de Wallander. De fato, trata-se de alguém que gosta demais de aparecer, e o confronto me soa muito desagradável, com a nítida vantagem de Wallander, dotado de uma discrição e de uma seriedade invulgares. Bäckström, pelo contrário, exibe-se sempre que pode. Ele só trata de assassinatos e é uma pessoa muito sensível, segundo a apresentação, simplesmente porque fecha os olhos e cai em rápida meditação ao longo da sua atividade.

Wallander aparece ainda em capítulos de uma série inaugural que já se perde no tempo, mas a figura é sempre coerente e igualmente fiel ao seu caráter impecável. Entendi que o seu comparecimento periódico estava terminando por causa de uma aposentadoria responsável por uma vida apartada em companhia de um cachorro. Simpáticos um e outro. Foi assim que o programa apelou para os tchecos com outro seriado encabeçado por um quadro de Rubens, intitulado As Mortes da Medusa.

Na inglesa Endeavour, o mestre na investigação é o jovem Morse – Imagem: ITV/Films&Arts

Os tchecos se saem tão bem quanto os suecos e vale a pena assistir, mas, por enquanto, Bäckström impavidamente continua em ação para impor a contradição com o sueco Wallander e com a tcheca Medusa, também ela chefe de polícia.

Os ingleses ficam com seu saboroso sotaque, frequentemente no cenário de Oxford, elegantíssimo como convém. Mestre ali na investigação é o jovem ­Morse, refinado cavalheiro sob o comando de chefes também muito elegantes na dicção e na sabedoria humana. Eles entendem de ser humano e dos ambientes trafegados. É uma simpática diversão vê-los na sua interpretação impecável.

Como contumaz devorador de romances policiais – e na minha opinião os melhores autores são o italiano ­Andrea Camilleri e o belga ­Georges Simenon – não posso esquecer na televisão, sempre nos canais já citados, o agente Carl Hamilton. O seriado é da tevê sueca, mas ­Hamilton sueco não é, a partir do sobrenome. Vale é que fala mais de uma língua e em uma gaveta especial guarda pilhas de passaportes.

Wallander reaparece para instruir Hamilton. Envelheceu bastante e anda amparado por uma bengala, é, contudo, sempre ­admirável pela acuidade das suas observações. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1212 DE CARTACAPITAL, EM 15 DE JUNHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Detetives para todos os gostos”

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