

Opinião
Um raro fair-play
A atitude de Moisés, do Fortaleza, que interrompeu o lance quando o zagueiro pediu substituição, é um raio de esperança


O gesto de fair-play no jogo entre Fortaleza e Fluminense, no domingo 22, pelo Campeonato Brasileiro, caiu como um raio na transmissão televisiva e nos comentários da mídia esportiva. O que deveria ser uma manifestação normal precisou ser explicado em detalhes para ser louvado como mereceu. Reflexo da tensão dos dias atuais.
Aos dois minutos do segundo tempo, o atacante Moisés, do Fortaleza, puxou o contra-ataque no exato momento em que o zagueiro Nino, do Fluminense, pediu substituição. O atacante do tricolor cearense teria toda liberdade para avançar pela lateral, mas teve fair-play e não partiu em direção ao gol.
O mais impressionante foi a atitude ter partido de um jogador jovem – excelente, por sinal – e nas circunstâncias do jogo, com seu time precisando muito da vitória. Isso tudo, obviamente, não justificaria uma decisão diferente. Mas não deixa de ser louvável o que se viu em campo.
Sobre o jogo disputadíssimo, a vitória do tricolor carioca, por 1 a zero, subverteu todas as estatísticas, provocando a expressão desolada e curiosa do técnico Juan Pablo Vojvoda.
Campeão cearense, o Fortaleza ocupa a 20ª posição na tabela de classificação do Campeonato Brasileiro, enquanto, na Libertadores, aparece em segundo lugar. “Será que é preciso jogar mal para vencer?”, parecia perguntar Vojvoda.
Do lado do Fluminense, o treinador Fernando Diniz, outrora elogiado por promover um futebol de apuro técnico, é agora criticado pelas posturas defensivas.
Ele mesmo reconheceu ter jogado pelo resultado magro. E, no fim, contou com a sorte. Como dizia Nelson Rodrigues, torcedor-símbolo do Flu, “sem sorte corre-se o risco de ser atropelado por uma carrocinha de Kibon”.
A paixão pelo futebol, ainda mais acirrada nestes tempos de forte instabilidade social, faz com que os torcedores, numa semana, se voltem contra os técnicos, jogadores e diretores para, na semana seguinte, havendo uma vitória, andarem nas nuvens com seus times.
Do outro lado do mundo, encerra-se, aos poucos, a temporada europeia 2021/22. Vão aumentando as especulações e confirmando ou não as transações entre os clubes pelos craques pretendidos. Assim, a renovação do contrato do sensacional Mbappé, no Paris Saint-German, deve ser o grande negócio desta janela de transferências.
O que está em jogo, diante da tentação das propostas do Real Madrid, são valores estratosféricos. Os árabes do PSG estão fazendo de tudo para roubar a coroa dos “Reyes de Europa”. Parece até um conto de As Mil e Uma Noites.
As especulações em torno das negociações dão vez a todo tipo de comentário sobre os desdobramentos dentro do elenco do clube francês. Há de tudo: disputas de poder, ego de estrelas e fofocas.
As férias do futebol na Europa começam em clima quente na Cidade Luz, com a propalada disposição dos dirigentes do PSG em promover uma reformulação em toda a estrutura do clube. Fala-se até mesmo no interesse na transferência de Neymar, com o posto de principal jogador sendo ocupado pelo Mbappé.
O brasileiro, por sua vez, contesta os boatos e diz que renovou seu contrato até 2025, que está adaptado à França e que não pensa de lá sair. Esta foi a temporada em que o jogador teve o menor índice de resultados.
As más línguas relacionam a situação incômoda não apenas aos resultados fracos, mas também às lesões constantes e às famosas noitadas – as desculpas de sempre dos perdedores. O nível de vida e o status alcançado pelo melhor jogador brasileiro do momento também levantam suspeitas sobre a sua falta de motivação para a rotina da profissão.
E, no meio disso tudo, vem a Copa do Mundo de 2022, exatamente no Catar, a terra dos “donos” do PSG. A expectativa pelos desdobramentos é grande.
No cenário internacional do mundo do futebol, outros “brasileirinhos” aparecem: Vinícius Júnior e Rodrygo, em especial, se destacam por estarem na final da Champions League. Há, além deles, muitos outros cavando seus espaços em seus clubes e na Seleção.
As atenções, de toda forma, estão voltadas para a finalíssima da Champions, que prende ainda mais nossa atenção com o desafio lançado por Mohamed Salah, pelo lado do Liverpool, jurando vingança antes mesmo do jogo entre Real Madrid e Manchester City – que garantiu a vaga do time espanhol. “Quero o Madrid. Temos contas a acertar”, disse o atacante. Do outro lado, Carlo Ancelotti, técnico do Real, desabafou depois de vencer os ingleses do City: “A camisa também joga”.
Aguardemos, então, o sábado 28, quando, em Paris, será apontado o campeão do melhor futebol da atualidade. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1210 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE JUNHO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Um raro fair-play”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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