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Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

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O jogo dos grandes

A partida entre Real Madrid e Manchester City pela semifinal da Champions League foi um espetáculo de rasgar corações

O jogo dos grandes
O jogo dos grandes
Rodrigo, do Real Madrid. Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
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Com uma bomba nas mãos, diante da enorme dívida do clube, André Rueda, presidente do Santos F.C. chama minha atenção quando insiste em dizer que o futebol brasileiro precisa de uma “reciclagem”. Antes, porém, na discussão em torno do futebol-empresa, Rueda havia marcado posição ao dizer que o clube deve pertencer aos associados.

Tateando na busca de um caminho para sair do enrosco da situação em que nos encontramos, houve a aprovação legal do modelo Sociedade Anônima de Futebol (SAF). Agora, já se discute a formação da, por enquanto, chamada Liga Brasileira (Libra). Isso se deu depois da concordância da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em ficar com a administração das seleções, deixando as demais disputas por conta dos clubes.

Houve a primeira reunião dos dirigentes de clubes e ela terminou com as dúvidas cruciais de sempre – e que, no fundo, reproduzem aquilo que está na raiz de todos os problemas da formação das associações entre os humanos, sempre divididos pela diferença entre os valores que carregam. Foi, de toda forma, marcado um novo encontro para se discutir o “rateio”. Trata-se de uma palavra curiosa, ligada ao dito popular “em festa de rato não sobra queijo”.

Muitas outras iniciativas vêm sendo tentadas. Muitas delas não passam de remendos pontuais, principalmente em relação à situação financeira dos clubes enredados nos formatos de associações fechadas, que há muito tempo vêm sendo asfixiadas.

A tabela de classificação das várias séries mostra como andam as coisas nos clubes do futebol profissional brasileiro. Vemos times de grande tradição, com histórias repletas de conquistas importantes, em posições aflitivas na Série A e mesmo nas divisões inferiores, ou seja, nas séries B, C, e até na D.

Por outro lado, clubes com “donos”, sem compromisso com conselhos deliberativos, fiscais etc., e também sem tradição, alcançam as primeiras posições.

O pano de fundo de tudo isso são os recursos, cuja origem varia ao longo do tempo. No momento, a bola está com os clubes-empresas, nos seus vários moldes, com destaque para a participação de grupos americanos, notadamente ligados a comunicação, energia e seguros, e de russos envolvidos com negócios de petróleo, gás e minerais.

Por falar nisso, está em jogo a direção do inglês Chelsea, um dos maiores vencedores do futebol atual no mundo, vítima da ensandecida guerra na Ucrânia.

E, já que cheguei ao futebol europeu, é inevitável voltar aqui à Champions League. A partida entre Real Madrid e Manchester City, ocorrida na quarta-feira 4, foi outra de rasgar corações. E a final do melhor campeonato de futebol no mundo na atualidade vai ser mesmo disputada por Real Madrid e Liverpool.

Terminei de ver a semifinal exausto, quase com mais cãibras do que os jogadores, eles de fato levados à exaustão depois da prorrogação completamente desconcertante. Sobressaiu-se o futebol bem jogado em todos os metros quadrados do estádio madrileno. Venceu a paixão avassaladora prevista pelo mais destacado jogador da temporada: o franco-argelino Karim Benzema.

Até o fim do tempo regulamentar, estava sedimentada a classificação do City, com vantagem. Mas, menos de dez minutos, tudo se inverteu e o Real, garantiu a vitória por 3 a 1 e a classificação para a final, em Paris, no fim do mês. Assim, o campeonato europeu aproxima-se do fim com um saldo de destaques e revelações aos borbotões. Foi um espetáculo inesquecível.

Por outro lado, aqui pelas nossas bandas, aconteceram, na semana passada, fatos dignos de observação urgente. Um deles foi a abordagem pessoal de torcedores ao técnico do Vasco da Gama no embarque da delegação. Trata-se de um absurdo sem tamanho que vem se tornando rotineiro. E insisto: os clubes têm a obrigação de garantir a segurança dos seus “colaboradores”.

Outro fato, mais ameno e até chistoso, foi o do torcedor que, inconformado com o nível dos jogadores, invadiu o campo e passou a “ensinar” ao goleiro do seu time técnicas de como se postar e atuar na consagração das cores que ambos defendem – um no campo, outro na torcida.

Houve ainda a intervenção do experimentado zagueiro Edu Dracena, hoje dirigente do Santos F.C., no túnel do vestiário da arbitragem. Após a vitória do São Paulo por 2 a 1, Dracena cercou o juiz e ameaçou divulgar o nome dele entre os torcedores. Justiça com as próprias mãos?

Sabemos que o Edu é de boa, mas o episódio mostra o quão acirrados andam os ânimos por estes rincões. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1207 DE CARTACAPITAL, EM 11 DE MAIO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “O jogo dos grandes”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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