

Opinião
A hora da virada
Não é possível vencer o bolsonarismo nacionalmente sem derrotá-lo no Rio de Janeiro


Chegou a hora de virarmos a página e escrevermos uma nova história para o Rio de Janeiro e o Brasil. Eu coloco as eleições para o governo do estado e a Presidência da República no mesmo pacote, porque não é possível vencer o bolsonarismo nacionalmente sem derrotá-lo no Rio de Janeiro.
Esse modelo miliciano de governo que está destruindo o Brasil nasceu no submundo do nosso Estado e é baseado no sequestro das instituições democráticas e na submissão do bem público aos interesses do crime. O resultado nós sabemos qual é: corrupção, desemprego, fome, devastação ambiental e degradação do debate público por meio da violência, disseminação massiva de fake news e intimidação.
A eleição para o governo do Rio de Janeiro reproduzirá o cenário nacional. De um lado, o campo bolsonarista e sua política do ódio, baseada na divisão social e no medo. Do outro lado estamos nós do campo democrático, apostando no diálogo e na união para, juntamente com o presidente Lula, vencermos as forças do atraso e colocarmos o nosso estado de pé novamente.
O momento exige de todos nós maturidade e responsabilidade para deixarmos as diferenças de lado e buscarmos consensos que resultem num novo projeto de desenvolvimento para o nosso estado e tenha como meta a solução dos problemas concretos que as famílias enfrentam todos os dias, com geração de empregos, serviços públicos eficientes, atração de investimentos e combate à violência.
Tem muita gente boa fazendo coisas positivas em diversas áreas do Rio de Janeiro, tanto fora quanto dentro das instituições políticas. O nosso foco é construir pontes para unir todos esses que têm compromisso com o nosso estado e sabem que o futuro pode ser muito melhor.
Nesse sentido, um passo fundamental foi dado com a publicação, pela sociedade civil, do manifesto em apoio à nossa candidatura ao governo. O documento é assinado por gente de diversas áreas e com diferentes origens e perspectivas políticas e econômicas, como empresários, pastores evangélicos, policiais, sindicatos, movimentos sociais, servidores públicos e academia. É um chamado ao diálogo e à cooperação, porque busca o que temos em comum, e não o idêntico, para juntos reerguermos o Rio de Janeiro.
Nosso estado precisa dar um recado de esperança ao Brasil. A política não pode continuar a ser o lugar da divisão, do ódio e do radicalismo. A política tem de voltar a ser o lugar do encontro, do consenso e da razão, o meio pelo qual brasileiros que pensam de forma diferente podem chegar a um acordo para resolver os problemas concretos da população e fazer o nosso país progredir.
Eu aprendi o valor da boa política no meu dia a dia. Venho de uma família humilde. Nasci em São Gonçalo e me criei na periferia de Niterói, no Bairro do Fonseca. Meu pai, seu Aroudo, só sabia escrever o nome e trabalhou como inspetor escolar. Minha mãe, dona Alenice, também não pôde concluir os estudos e sempre trabalhou em escolas particulares como secretária. Duas pessoas simples que sempre educaram a mim e aos meus irmãos pelo exemplo, mostrando que o trabalho duro e honesto pode transformar a realidade à nossa volta.
Foi com esse espírito que decidi entrar para a política em 2006, quando me elegi deputado estadual pela primeira vez. Ao assumir o mandato, eu e minha família vivíamos o luto de termos perdido, naquele mesmo ano, meu irmão Renato, assassinado aos 34 anos pela milícia. O primeiro projeto que apresentei foi o pedido de criação da CPI das Milícias, porque eu não queria que nenhuma outra família passasse pelo que nós passamos.
Após quase um ano de trabalho, nós colocamos mais de 200 milicianos na cadeia, incluindo todos os chefes das quadrilhas, e apresentamos 58 propostas para enfrentarmos o crime organizado. Além disso, mostramos como a associação entre o crime organizado e políticos corruptos está na origem dos males que enfrentamos no Rio de Janeiro há décadas.
Apesar de a CPI ter sido um marco na história da segurança pública no nosso estado e ter obtido resultados concretos, vencer essa máfia que sequestrou o poder no Rio de Janeiro e que agora exportou seu método de governo para o Brasil é o nosso principal desafio. As consequências dessa associação entre crime e política não se resumem ao aumento da violência, elas prejudicam a prestação dos serviços públicos, afastam investimentos e aprofundam a crise social em todo o País.
Por isso é hora de nos unirmos e virarmos esse jogo, para libertar o estado e fazer com que o governo sirva às pessoas de bem, não aos interesses do crime organizado e de políticos corruptos. É assim que vamos fazer com que o Rio de Janeiro seja novamente um exemplo para o Brasil. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1205 DE CARTACAPITAL, EM 27 DE ABRIL DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A hora da virada”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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