Política

O destino do Brasil em jogo

Restam poucos dias para se evitar que a democracia no País entre em coma

O destino do Brasil em jogo
O destino do Brasil em jogo
Haddad no Tuca, em São Paulo
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Temos cinco dias para evitar que a democracia brasileira entre em coma. Com os erros do PT e dos demais partidos democráticos, não existe alternativa senão a mobilização máxima da sociedade, de todos nós, contra o “risco Bolsonaro”. Até a última hora, com todas as nossas forças, temos que fazer um corpo a corpo gigantesco, nas ruas e na internet, para evitar esse desastre.

Bolsonaro não deixa margem à dúvida: levará o país, com um apoio de massas fanatizadas, para um regime autoritário e de exceção, desrespeitando a Constituição, em um clima de confronto, violência e terror.

Na primeira entrevista após facada, quando tinha 22% das intenções de voto, o presidenciável disse que “não aceitaria um resultado diferente de sua vitória”. Em seguida, cresceu o questionamento anacrônico às urnas eletrônicas.

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A Folha de S. Paulo mostrou que sua campanha foi impulsionada por Fake News, difundidas após terem roubado dados pessoais de milhões de brasileiros para disparos em massa no Whatsapp, a partir do exterior, com recursos ilegais de empresas, via caixa 2.

No sábado 20 foi divulgada a declaração de seu filho, eleito deputado federal com quase 2 milhões de votos, dizendo que “o STF poderia ser fechado com um cabo e um soldado”.

No dia seguinte, em vídeo exibido na Avenida Paulista, o presidenciável disse que “seus apoiadores são a maioria e que eles são o Brasil de verdade”. Prometeu “uma limpeza nunca vista na história do Brasil” e concluiu: “A faxina agora será muito mais ampla. Essa turma (…) ou vai pra fora ou vai para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”.

Na segunda-feira 22, seus apoiadores invadiram a “Conversa de Justiça e Paz”, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e gritaram que a “igreja era comunista”. Agressões contra opositores são noticiadas diariamente. Fanáticos e irracionais, são alimentados pelo ódio e por Fake News.

São fatos recentes, quando Bolsonaro tentou amenizar o discurso para não assustar eleitores. Nas afirmações mais antigas, o ex-capitão defendia a tortura, a homofobia, o machismo, o preconceito. Afirmava que a ditadura deveria ter matado muito mais e que seria necessária uma guerra civil com 30 mil mortos para implantar suas propostas.

Em 19 de setembro, escrevi uma coluna na CartaCapital com o título “O risco Bolsonaro exige uma frente democrática”. Fernando Haddad estava em ascensão, com 21%, e Bolsonaro estacionado em 28%. Mas eu antevia o cenário que hoje se descortina ao afirmar: “Bolsonaro não é mais o candidato que todos derrotariam”.

Para mim era evidente que a aliança entre a extrema-direita, violenta e conservadora na questão dos costumes, com o programa econômico neoliberal, alimentada pelo discurso da segurança e do antipetismo, poderia ser majoritária. Está sendo, pois as forças democráticas não se juntaram de fato.

O PT minimizou esse risco. Achou que a popularidade de Lula e a rejeição de Bolsonaro iriam levá-lo de novo ao governo. Para alguns deslumbrados, iria chegar ao poder.

Após o primeiro turno, as outras forças democráticas de centro e centro-esquerda (Ciro Gomes, Marina Silva, FHC, Geraldo Alckmin etc.), magoadas com a arrogância e o afã hegemônico petista e presas à suas próprias ambiguidades e umbigos, deram de ombros e lavaram as mãos. Condenaram Bolsonaro, mas não aceitaram o tardio e tímido apelo de Haddad para a formação de uma frente democrática. Aos poucos, vão declarando um voto crítico, para não ficarem para a história como omissos. É insuficiente.

Frente democrática, para se efetivar, significaria uma composição programática que diluísse, sem eliminar, o caráter petista da candidatura Haddad. Para isso, na segunda-feira após as eleições, o presidenciável, em vez de ir a Curitiba, deveria ter convidado as demais lideranças anti-Bolsonaro para sentar e recompor o seu o programa, assumindo novos compromissos perante o País.

A base desse programa mínimo seriam os princípios básicos consensuais no centro e no centro-esquerda: a defesa da democracia, das instituições republicanas, dos direitos humanos e civis, do combate à corrupção, da inclusão social e a redução das desigualdades, da responsabilidade fiscal, da reforma tributária, da previdência e do Estado, da defesa do meio ambiente e da diversidade cultural, étnica, racial e de orientação sexual.

Esse princípios agregam muito mais que 50% dos brasileiros, mas isso não foi feito e perdeu-se um tempo precioso. Agora, com o abismo a se aproximar, será que as lideranças políticas responsáveis teriam a grandeza de criar um novo fato para evitar o desastre?

Muitos daqueles que declaram voto em Bolsonaro, mas rejeitam suas ideias, esperam por uma saída que lhes dê segurança para mudar o voto. 

Mesmo com a incapacidade das lideranças políticas democráticas fazerem o que delas se espera, a sociedade reage com determinação. Artistas, juristas, intelectuais, professores, profissionais liberais, trabalhadores, cidadãos, todos nós, estamos nas ruas e na internet, incansavelmente, buscando evitar que a democracia sucumba em nosso País.

Até a última hora, até o último homem e a última mulher, até o último voto, não podemos jogar a toalha. Está em jogo o futuro dos nossos filhos e netos. Está em jogo o destino de uma nação.

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