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Tarsila no País das Maravilhas

Tarsilinha coroa a trajetória de 30 anos da Pinguim Content, produtora dedicada ao público infantil

Tarsila no País das Maravilhas
Tarsila no País das Maravilhas
O filme usa cores, formas e figuras criadas pela artista modernista - Imagem: H20/Pinguim
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Em 30 anos de existência, a ­PinGuim Content, que nasceu como TV Pinguim, demonstrou ser capaz de feitos improváveis, como produzir animação em grande escala no Brasil e exportar séries infantis.

Criada por Célia Catunda, formada pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), e por Kiko Mistrorigo, arquiteto vindo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade, a produtora já havia feito muita coisa de qualidade quando conseguiu emplacar um sucesso na ­Discovery Kids: Peixonauta (2009), a primeira grande série infantil brasileira.

Peixonauta teve 52 episódios, foi exibida em mais de cem países, gerou licenciamento de produtos e ainda virou longa-metragem. A série seguinte, O Show da Luna (2014), que está a caminho da oitava temporada, também viajou o mundo.

Se este breve retrospecto serve de preâmbulo a Tarsilinha, em cartaz nos cinemas brasileiros desde a quinta-feira 17, é porque a nova animação da PinGuim parece ser o coroamento dessa longa e feliz trajetória.

O filme, baseado no universo visual e temático de Tarsila do Amaral ­(1886-1973), une a sensibilidade artística a uma percepção aguda do mercado de produções audiovisuais para a criança.

O projeto nasceu de uma ideia dada pela sobrinha-neta de Tarsila, que achava ser possível explorar os quadros da artista em uma animação. O resultado dessa aventura não apenas escapa de soluções óbvias como alcança o que quase todo filme infantil busca: a magia.

O mote da trama é aquele consagrado nas narrativas que aderem ao tempo e ao espaço mágicos. Tal qual uma Alice que entra no País das Maravilhas, Tarsilinha, ao se ver defrontada com a perda de memória da mãe, mergulha em um lago e chega a um mundo completamente diferente do real.

Nesse mundo, as cores, as formas e as figuras pintadas por Tarsila ganham movimento, personalidade e motivações. Do quadro A Cuca (1924), por exemplo, saem o Sapo, companheiro fiel da protagonista, a Lagarta, vilã que ganhou voz com Marisa Orth, a Cuca, que quer, a todo custo, fazer a menina dormir, e o Tatu Pássaro, dublado por Marcelo Tas.

A presença do incontornável ­Apaboru (1928) fica reservada para o final e, ao lado­ da sequência do trenzinho, lindamente embalada pela melodia de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), dá conta de duas das mais populares heranças que o Modernismo brasileiro deixou.

Quis o acaso que, adiado por conta da pandemia, ­Tarsilinha se somasse às celebrações do centenário da Semana de 22 e, de maneira absolutamente original, contri­buísse para a percepção do valor do que aqui se passou, artisticamente, um século atrás.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1200 DE CARTACAPITAL, EM 23 DE MARÇO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Tarsila no país das maravilhas”

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