CartaExpressa
MPF aciona governo Bolsonaro por concessão de UCs sobrepostas a áreas quilombolas e indígenas
Além de violar os direitos desses grupos à consulta prévia, há, segundo a denúncia feita aos procuradores, a entrega das áreas a “interesses econômicos extrativos conflitantes com a integridade dos territórios tradicionais“


O governo federal incluiu, por meio de dois decretos, catorze unidades de conservação no rol nos programas de Parcerias e Investimentos da Presidência da República e de Desestatização.
Cinco dessas unidades, porém, possuem áreas estão sobrepostas a terras tradicionalmente ocupadas por comunidades quilombolas e povos indígenas. Há ainda relatos de que já operam projetos extrativistas nessas terras, como mineração em larga escala.
Com base em relatórios feitos pela Associação Brasileira de Antropologia, a ABA, o Ministério Público Federal pede que o Ministério do Meio Ambiente informe quais medidas foram ou serão adotadas para regularizar esse problema, com provas documentais. A procuradoria também questionou os motivos do governo ter ignorado as denúncias anteriores feitas pela ABA ao ministério. O prazo é de 20 dias a partir da data do ofício, publicado nesta sexta 11.
CartaCapital teve acesso a nota técnica e à decisão da procuradoria. Além de violar os direitos desses grupos à consulta prévia, há, segundo a denúncia feita aos procuradores, a entrega das áreas a “interesses econômicos extrativos conflitantes com a integridade dos territórios tradicionais e seus ambientes de vida, como a mineração em larga escala”.
As unidades de conservação possuem famílias e comunidades tradicionais em seu interior ou entorno são: o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no Rio de Janeiro; o Parque Nacional Serra da Canastra, Minas Gerais, o Parque Nacional da Serra do Cipó, também em Minas; o Parque Nacional do Caparaó, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, e e Floresta Nacional de Ipanema, em São Paulo.
O procurador Leandro Mitidieri, coordenador do Grupo de Trabalho de Unidades de Conservação da Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal também oficiou as 14 procuradorias onde estão localizadas as unidades de conservação.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.