CartaCapital
A festa das cores
A final da Copa Africana de Nações, entre Senegal e Egito, foi um espetáculo completo, com pênaltis sendo disputados até a exaustão


Em meio à agitação destes tempos em que notícias sobre situações limítrofes nos chegam de todos os lados, mereceu atenção, esta semana, a sensacional partida final da Copa Africana de Nações, entre Senegal e Egito, realizada no domingo 6. Foi uma disputa completa, teve de tudo.
Grudado à poltrona, fiquei mais cansado do que os próprios jogadores que atuaram durante o tempo normal, a prorrogação e a disputa de pênaltis – especialmente complicada pelos dois goleiros extraordinários.
Eles foram os responsáveis diretos pela sequência de empates até a cobrança final. Essa cobrança reabilitou o senegalês Sadio Mané, o melhor jogador da decisão, que perdera uma cobrança semelhante durante o jogo corrido.
Entre os goleiros, o senegalês Edouard Mendy já estava consagrado como o melhor da temporada de 2021. Gabaski, o goleiro egípcio, entretanto, conseguiu garantir a chegada de seu time até o fim.
O embate colocou também frente a frente dois companheiros de equipe no Liverpool, do Reino Unido: Mané e Mohamed Salah. E ambos voltarão a se enfrentar pelas seleções de seus países nas eliminatórias para a próxima Copa do Mundo.
Desta vez, o sensacional craque egípcio ficou no sacrifício. Teve que defender uma seleção que passa por uma entressafra de títulos. Apesar das conquistas anteriores da história das copas africanas, o time demonstrou estar menos forte do que já foi.
Fora das quatro linhas, cabe destacar o desempenho e o posicionamento excepcionais de ambos os treinadores. De um lado, pelo Egito, o técnico português Carlos Queiroz. Do lado oposto brilhou a figura simpática de Aliou Cissé, africano autêntico, dos pés à cabeça, que conduziu com simplicidade e discrição a seleção campeã.
O primeiro título continental do Senegal motivou uma explosão de festividades contagiante, a começar pelo colorido vibrante da bandeira do país. Mas as cores se estendem também às vestimentas e fantasias utilizadas pelo povo senegalês, que, em festa, celebrava essa conquista.
Nos chegou também da África, por estes dias, a imagem do ex-craque sul-africano Pitso Mosimane, hoje técnico do time egípcio Al-Ahly, que perdeu do Palmeiras na semifinal do Mundial de Clubes. Apesar dessa derrota, não se pode negar que tais experiências de Mosimane simbolizam o crescimento do futebol no seu país de origem, também berço de Nelson Mandela, e comprova o quanto o esporte evoluiu por lá após a realização da Copa, em 2010.
Até então, a África do Sul tinha pouco mais que times de comunidades de origem europeia, que cultivavam essa prática, basicamente, por hobby. Antes de chegar ao comando do Al-Ahly, Pitso realizou outros trabalhos vencedores em vários países.
Também de longe, e com cores brancas de neve, nos chegam imagens das Olimpíadas de Inverno de Pequim, com seu panorama coberto de neve. Suando “em bicas” no verão carioca, assistimos às disputas com os atletas encasacados até os olhos.
Já da Europa vem, direto do Manchester City inglês, uma nota animadora do consagrado Guardiola. Com bom humor, ele desarmou uma possível “fofoca”, que cairia bem no gosto dos tabloides sensacionalistas.
Ao ser questionado sobre uma possível punição a três jogadores do seu time fotografados num restaurante altas horas da noite, respondeu: “Os três serão multados porque não me convidaram”.
A propósito do Manchester City, fomos surpreendidos com a publicação da tabela de um campeonato, a Conmebol Libertadores, onde constava o Montevideo City Torque. Trata-se de mais um time pertencente ao poderoso grupo que possui também a franquia americana do New York City, do Melbourne City, da primeira divisão australiana, e do Yokohama Marinos, clube que joga a Primeira Divisão japonesa.
Os clubes-empresa parecem estar mesmo com tudo nestes tempos ditos modernos. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1195 DE CARTACAPITAL, EM 16 DE FEVEREIRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A festa das cores”
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