Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Sertão de Armando Lôbo em álbum audiovisual duela com outros estilos

O resultado do formato usado pelo pernambucano para apresentar novo disco reforça sua poesia híbrida

Sertão de Armando Lôbo em álbum audiovisual duela com outros estilos
Sertão de Armando Lôbo em álbum audiovisual duela com outros estilos
Armando Lôbo. Foto: Victor Luiz
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O trabalho musical do cantor, compositor e multi-instrumentista Armando Lôbo é realizado a partir da confluência de raízes tradicionais nordestinas com outros estilos musicais. São enredamentos incomuns inseridos ao ritmo regional, resultando num trabalho ousado.

Transpor essas ideias para o campo das imagens é desafiador. Mas o artista resolveu bem essa questão, apresentando um álbum audiovisual do seu quinto disco solo de forma fecunda.

No novo álbum Veneno Bento, ele divide o disco em duas playlists: uma com sete faixas de músicas populares e outra com quatro faixas de músicas na linha erudita instrumental. “A divisão em duas playlists – música popular e música contemporânea de concerto – é uma ironia à segmentação algorítmica do público. Em verdade, uma playlist reverbera na outra”, afirma o músico.

Todas exploram o universo nordestino, com o sertão, seus personagens, o clima, a geografia e a religião. O trabalho audiovisual, obviamente, também segue essa temática, mas com estética ligada ao trabalho de Armando Lôbo.

“A ideia do álbum é não de uma fusão, mas um duelo entre diversas linguagens musicais, buscando uma nova abordagem poética do sertão nordestino, encarado como signo de diversidade e fertilidade, e não de aridez”, explica o cantor e compositor.

Faixas

O álbum audiovisual abre com o eletrobaião Sertão Satori (Armando Lôbo) com imagem de estrada típica sertaneja, o vaqueiro, destoante religiosidade hindu representada por um casal e o cantor com camisa e calça social portando crachá. A letra perpassa por essas representações.

A Fera do Sol (também só de Armando) é um poema ao inclemente sol da região. Casal de atores representa o emocional ao sol. A cantora Luiza Fittipaldi participa da gravação.

A faixa-título, Veneno Bento (Rodrigo Zaidan e Armando), é uma poesia desarmônica, expressando o que passa em letra e melodia o disco. Um filme em preto e branco protagonizado por um casal mostra o veneno abençoado e maldito.

Veneno Bento (o disco) surgiu a partir da noção do phármakon grego, termo que designava remédio, veneno e sacrifício”, explica.

A clássica Morte do Vaqueiro (Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho) ganha versão com camadas de vozes em vários tons e timbres, com um vaqueiro solitário na tela.

O álbum audiovisual segue com Abismo (Armando), dedicada a Ariano Suassuna, um lyric video psicodélico no sertão. Na sétima faixa, Disparo (Armando), com participação de Surama Ramos, a métrica repentista e o sertanejo.

A parte popular do disco, de canções transcendentes, termina com Incelenças (Luciano Garcez), com menção à religiosidade e clipe com a imagem do solo típica.

O trecho erudito começa com Aboio e Disparada (Armando), dividido em dois atos, com influências dos compositores clássicos György Ligeti e Heitor Villa-Lobos, exprimindo imagens sertanejas.

A Tocaia e Hubris Cabocla (ambas de Armando) são apresentadas em vídeo no formato de suas partituras. O disco se encerra com Alquimia da Zabumba (Armando), um vídeo-gráfico de um ponto encravado no sertão. As músicas eruditas reúnem instrumentos regionais e sons inusitados.

“Não aceito restrições de gênero musical ou artístico. Por isso, o álbum sai com o reforço poético de uma versão audiovisual, constituída de material bastante híbrido”, ressalta o pernambucano.

O álbum audiovisual foi dirigido e editado pelo próprio Armando Lôbo. É uma nova possibilidade, dentro de um projeto que busca desarmonia e expressividade. Vale observar como se encara com qualidade uma iniciativa desse tipo.

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