Cultura
Rosto de uma época de ouro do cinema
Aos 90 anos, vai-se a estrela que brilhou como Anna Magnani e Sophia Loren


Coube ao ministro da Cultura italiano, Dario Franceschini, anunciar a morte de Monica Vitti, ocorrido na quarta-feira 2. Musa de Michelangelo Antonioni, com quem fora casada, a atriz tinha 90 anos e enfrentava, havia um bom tempo, uma doença degenerativa. “Adeus à rainha do cinema italiano”, escreveu o ministro, no comunicado.
Nascida Maria Luisa Ceciarelli, em 3 novembro de 1931, em Roma, numa família de origem siciliana, Monica decidiu, ainda muito jovem, que entregaria sua vida à interpretação.
Chegou a fazer um curso de secretária, para satisfazer a ansiedade da família, mas logo se inscreveria no conservatório de artes dramáticas de Roma. “Eu precisava ser atriz para não morrer”, escreveu, na autobiografia publicada em 1995.
Antes de ser descoberta por Antonioni, que a levaria para o cinema, interpretara papéis escritos por Shakespeare, Brecht, Molière e Georges Feydeau nos palcos.
O primeiro convite feito pelo cineasta foi para que ela, com sua voz rouca, dublasse a atriz Dorian Gray no filme O Grito (1957). Nascia ali uma dupla paixão. Monica logo se tornaria não apenas a musa artística de Antonioni, mas também sua mulher.
O filme que marcou o início dessa história foi A Aventura (1958), no qual a atriz vive, com um olhar tão sedutor quanto angustiado, a atormentada Claudia. O longa-metragem, exibido no Festival de Cannes de 1960, tornou-se um marco da história do cinema – despertando amores e ódios. Viriam na sequência A Noite (1961), O Eclipse (1962) e O Deserto Vermelho (1964).
Desfeito o casamento, depois de uma década da relação, a atriz deixou o universo etéreo de Antonioni e passou a mostrar sua versatilidade. Entre as décadas de 1950 e 1990, seu nome aparece creditado em nada menos que 63 filmes.
No cinema italiano, trabalhou com Mario Monicelli (A Garota com a Pistola, de 1968), Alberto Sordi (Amor, Ajuda-me, de 1969), Ettore Scola (Ciúme à Italiana, de 1970) e Luciano Salce (Pato com Laranja, de 1975), entre outros.
Nos Estados Unidos, fez Modesty Blaise (1966), aventura de espionagem dirigida por Joseph Losey, na qual interpretava uma versão feminina de James Bond. Com Luis Buñuel, filmou O Fantasma da Liberdade (1974).
Presença luminosa na tela, com sua expressão enigmática e sua beleza impecável, Monica Vitti tornou-se também símbolo de uma época de ouro do cinema. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1194 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE FEVEREIRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Rosto de uma época de ouro do cinema”
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