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Lula tem nosso apoio incondicional, mas louvamos quem abre o coração e a mente

Requião e os irmãos Gomes, ao dizer o que pensam, são personagens raras no palco da política nativa

Lula tem nosso apoio incondicional, mas louvamos quem abre o coração e a mente
Lula tem nosso apoio incondicional, mas louvamos quem abre o coração e a mente
O único capaz de nos livrar de Bolsonaro – Imagem: Ricardo Stuckert
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Se eu votasse no Paraná, sem a mais pálida sombra de dúvida votaria em Roberto Requião. Ele acaba de dizer que pretende se candidatar novamente a governador de seu estado e deve ter ótimas razões para tanto. Diz algo mais ao revelar a intenção de filiar-se ao PT. Fosse eu do Partido dos Trabalhadores, e nele tivesse alguma influência, receberia Requião de braços abertos. É uma figura política sem mancha e sem medo. Diga-se que mais de uma vez o encontrei às portas da delegacia da PF de Curitiba, onde os notórios facínoras Sergio Moro e Deltan Dallagnol decidiram aprisionar o ex-presidente Lula.

Requião é uma dessas personalidades que não temem dizer o que pensam, e o que pensam tem peso. Declarar a sua adesão ao PT significa, se ainda houvesse incertezas, que ele vai depositar o seu valioso voto a favor de Lula, o único capaz de nos livrar de Jair Bolsonaro e do seu bolsonarismo. Em um país como o Brasil, onde abundam personagens melífluos na hora de dizer a que vêm, Requião é uma exceção. A coragem de expor sem disfarces a própria opinião, custe o que custar, é de fato qualidade extraordinária.

Há outros também desabridos ao revelar o seu pensamento. Tenho, pessoalmente, amizade e admiração pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, também eles dotados do desassombro de abrir o coração e a mente, sem meias palavras. São eles duas figuras da cena brasileira, raras aliás, dispostas a agir em obediência ao seu pensamento. CartaCapital respeita a ambos e não deixa de lhes louvar o caráter. Bem conhecidas as investidas de Ciro e Cid contra comportamentos do Partido dos Trabalhadores e do próprio Lula, no Congresso e fora dele.

CartaCapital e eu, pessoalmente, em várias ocasiões criticamos as posturas petistas, e a própria Gleisi Hoffmann ouviu minhas observações negativas em relação ao PT, quando de um debate realizado na Bahia, na presença do então governador Jaques Wagner. Nada disso desfaz o compromisso desta publicação de apoio incondicional ao candidato Lula nas eleições deste ano. A razão já foi exposta, mas vale repetir que nos mandatos ocupados por Lula o Brasil viveu um período de grande alento. E este momento da recente história brasileira que representa o capital é exclusivo do ex-presidente e o qualifica para a próxima batalha decisiva.

Requião e os irmãos Gomes, ao dizer o que pensam, são personagens raras no palco da política nativa – Imagem: L.C.Moreira/Futurapress e Wanezza Soares

Além de tudo, Luiz Gonzaga Belluzzo e eu, parceiros da desassombrada aventura de CartaCapital, temos razões para entender, mesmo porque o próprio Lula deixou pistas a respeito, que questões superadas em 2002, em uma situação completamente distinta da atual, demandam, por parte de um novo governo, intervenções destinadas a retirar o Brasil da classificação de país mais desigual do mundo, por obra e desgraça das condições impostas pela presença implacável de uma casa-grande ainda de pé.

Certo seria cogitar o mais depressa possível da demolição da mansão dos senhores e do reduto dos escravos. Não é coisa passível de conserto no curto prazo, isto é evidente. Necessário é, porém, iniciar a tarefa por mais íngreme que possa parecer ao sabor da determinação de agir na medida certa, sem afobamentos. Trata-se, enfim, de uma obra que, sem descurar da paciência, atua com o propósito de levar o povo a entender a gravidade dos vexames até hoje sofridos.

Esta obra didática de doutrinação coube claramente ao PT, que até hoje não a executou. Por aí eclode o segundo maior problema a afligir o País, a inércia ­resignada­ de um povo incapaz de reagir. O povo a cair na festa quando chega ­Lula há de ser entendido como é, sem retórica, alegre em meio à sua desgraça, sem identificar quem a provoca. Nesta alegria contraditória e até patética reside o triunfo da casa-grande, feliz com a inofensiva reação da senzala.

Nas últimas duas décadas, de 2002, ano da primeira eleição de Lula, até hoje, humilhados por uma série de golpes destinados a criar o fenômeno Bolsonaro, o Brasil mudou muito, em profundidade, e o mundo todo não deixou por menos. Presente da sua janela no Vaticano, a encarar a multidão na Praça de São Pedro, Francisco é o estadista capaz de uma visão global. Em sua visão, confirma os erros seguidos dos homens ainda e sempre tolhidos para a compreensão do mundo e da vida.

Neste contexto, o Brasil é talvez o país que mais se aviltou, entregue à demência e à ganância de quem o governa. Para o povo brasileiro, neste exato instante, Lula representa a esperança. Quem sabe até do próprio papa Francisco. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1192 DE CARTACAPITAL, EM 26 DE JANEIRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Lula e os outros”

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