Cultura
Um reencontro pela escrita
Por serem recorrentes, as antologias de cronistas tendem, de saída, a despertar certa desconfiança


Por serem recorrentes, as antologias de cronistas tendem, de saída, a despertar certa desconfiança. Mas, no caso de Os Sabiás da Crônica (Autêntica, 352 págs., 74,90 reais), a dúvida se dissipa antes mesmo da leitura dos 90 textos selecionados. O prefácio de Augusto Massi, que detalha o percurso curatorial, é um ensaio que vale por si.
O eixo em torno do qual gira a coletânea é uma foto tirada em 1967, na cobertura de Rubem Braga, em Ipanema, destinada a divulgar a então recém-surgida Editora Sabiá. Quem teve a ideia de fazer uma antologia dos seis autores do retrato foi Maria Amélia Mello, editora que ganhou fama no mercado como uma inventora de livros.
Pois se coube a Maria Amélia a invenção do reencontro literário, coube a Massi a organização do convescote. Massi diz ter desejado fazer uma antologia que “correspondesse, no plano textual, a um retrato de grupo” e fosse capaz de captar o que ele chama de uma “sociabilidade de grupo”.
A apresentação, ao traçar um panorama histórico do gênero, dividindo-o por ciclos e alinhavando os pontos de encontro entre três gerações, dá às crônicas quase que uma nova vida. Da antologia, emergem os laços de amizade, os desafios e limites do gênero – tratados de forma especialmente engraçada por Braga e Fernando Sabino – e o cotidiano de um Rio literário e boêmio. •
VITRINE
O Regresso de Júlia Mann a Paraty (Oficina Raquel, 128 págs., 59 reais) celebra 40 anos de carreira da portuguesa Teolinda Gersão. O romance se constrói a partir das relações entre Sigmund Freud, Thomas Mann e a mãe do escritor, Júlia Mann, nascida em Paraty, no Rio, e ainda menina levada para a Alemanha.
Em O Último Julgamento (Record, 462 págs., 59,90 reais), Sandy Stern, advogado criado pelo escritor Scott Turow três décadas atrás, está com 85 anos e terá de adiar a aposentadoria para defender um amigo acusado de graves crimes. Turow, autor best seller, segue, segundo o New York Times, em plena forma.
Foi durante a pandemia que Leonardo Padura concluiu Como Poeira ao Vento (Boitempo, 544 págs., 83 reais), um romance no qual os personagens têm seus destinos diretamente afetados pela história de Cuba, sendo definidos pela diáspora. A saga,iniciada nos anos 1990, trata do que separa, mas também do que une.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1188 DE CARTACAPITAL, EM 16 DE DEZEMBRO DE 2021.
CRÉDITOS DA PÁGINA: PAULO GARCEZ, OFICINA RAQUEL, RECORD E BOITEMPO EDITORIAL
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