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Conservadores ameaçam o projeto da jovem premiê Sanna Marin na Finlândia

Sanna Marin afirma que o país está comprometido com preservar seu generoso Estado do Bem-Estar de ‘maneira ambientalmente sustentável’

Conservadores ameaçam o projeto da jovem premiê Sanna Marin na Finlândia
Conservadores ameaçam o projeto da jovem premiê Sanna Marin na Finlândia
Legado. Para Marin, os finlandeses não podem abandonar o Estado de Bem-Estar Social erguido pelas gerações passadas. Fotos: ISTOCKPHOTO E LAURA KOTILA/FINNISH GOVERNMENT
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Igualdade, um sistema educacional bem provido e um forte Estado do Bem-Estar Social são o segredo do sucesso do país mais feliz do mundo, segundo a primeira-ministra da Finlândia. Em uma rara entrevista à mídia estrangeira, Sanna Marin, que por um breve período foi a líder mundial mais jovem, quando se tornou a primeira-ministra do país nórdico, em 2019, aos 34 anos, disse que a Finlândia está comprometida com preservar seu generoso Estado do Bem-Estar de “maneira ambientalmente sustentável”, e vê o desenvolvimento e a exportação de tecnologia verde como a chave para sua futura prosperidade.

Marin disse que o país “queria se sair melhor no que se trata de igualdade”, depois de ser chamado de o país mais feliz do mundo em abril pela Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que pede aos indivíduos para darem nota à sua satisfação em uma ­escala de 10 pontos.

Marin surfou uma onda de popularidade durante a pandemia por sua gestão segura da crise. No país de 5,5 milhões de habitantes, só cerca de 1,3 mil morreram de Covid-19. Mas começam a aparecer divisões em sua coalizão de cinco partidos, todos liderados por mulheres.

Uma pesquisa recente feita pela companhia nacional de rádio e televisão YLE mostrou o partido de oposição liberal-conservador Coalizão Nacional como o mais popular, seguido pelo populista Finlandeses, de direita, com os social-democratas de Marin em terceiro lugar.

Nas últimas semanas, ela enfrentou uma moção de não confiança especulativa de partidos de oposição que pretendem fechar a fronteira de 1.280 quilômetros para refugiados que pedem asilo, depois que a Bielorrússia praticou o que a União Europeia condenou como um “ataque híbrido”, enviando os solicitantes para as fronteiras da Polônia, Lituânia e Letônia. Mas Marin disse que não houve problema na fronteira finlandesa. “Temos de dizer que isso é inaceitável. Estamos condenando os atos da Bielorrússia. Mas ao mesmo tempo temos de garantir que os direitos humanos das pessoas sejam respeitados nessa situação”, disse ela.

Questionada se achava que os futuros governos continuariam a pressionar por igualdade, apesar da disparidade entre seu governo liberal e os partidos de oposição mais de direita, ela disse: “Acho que sim, porque é um trabalho em andamento. Nós sempre trabalhamos por igualdade na Finlândia, e acho que também é importante no futuro, e não só a igualdade de homens e mulheres, de gêneros, mas também a igualdade de grupos minoritários na sociedade. Temos de garantir que as estruturas não atuem como barreiras para os indivíduos. Então há muita coisa a fazer”.

Sanna Marin defende radicalizar o conceito de igualdade e o desenvolvimento sustentável

Uma recente onda legislativa tornou compulsória a educação até os 18 anos. Um novo sistema de licenças parentais deverá entrar em vigor em agosto próximo, o que tende a aumentar o tempo permitido para ser usado pelos pais de 54 dias para, no mínimo, 97. “A ideia seria que as mães e os pais passem o mesmo tempo em casa com seus filhos pequenos, para que ambos possam ter as mesmas oportunidades na profissão, mas também para podermos reduzir a lacuna de rendimentos entre gêneros”, disse Marin.

A primeira-ministra também reiterou seu compromisso com acabar com a falta de moradias na Finlândia, onde a abordagem Housing First (Habitação Primeiro) reduziu o número de moradores de rua e pretende eliminar a situação até 2027.

É um modelo que chamou atenção de políticos britânicos. Mas o financiamento para três pilotos no país baseados no Housing First lançados em 2018 deverá terminar no próximo ano, e os parlamentares advertiram que agora eles enfrentam um “apoio à beira do abismo”.

Marin disse que o investimento a longo prazo no Housing First foi um progresso importante, mas ainda há trabalho a ser feito. “Ainda há gente sem casa, e ainda temos problemas, especialmente nas cidades maiores. Mas também fizemos progresso”, disse. “O modelo do Housing First é muito importante, mas é claro que também precisamos de soluções para o sistema de saúde, o sistema de seguridade social e o emprego. Precisamos garantir que estamos tratando todos como indivíduos íntegros.”

A Finlândia prometeu ser neutra em carbono até 2035, 15 anos antes da meta europeia. Marin disse que, embora a mudança climática seja o maior desafio que o país enfrenta, também poderá ser “uma grande oportunidade” para as empresas finlandesas. “Queremos fazer a transformação de um modo que realmente beneficie os cidadãos comuns. Porque, se não colocarmos todos a bordo, não há nada que possamos fazer.”

O compromisso com uma sociedade mais justa e igualitária continuaria o trabalho de “muitas gerações” de políticos, acrescentou Marin, que vem de uma família de baixa renda.

“A principal questão, é claro, é que eles construíram uma sociedade do bem-estar social na Finlândia: gente como eu, vinda de um ambiente muito modesto, teve as oportunidades na vida de estudar, ir à universidade, ter uma chance na vida para fazer seu próprio futuro”, disse. “Por isso eu acho que todas as decisões, o trabalho duro que as gerações antes da minha fizeram para construir nossa sociedade é importante. O trabalho real a ser feito agora é garantir que continuemos a promover oportunidades iguais.” •


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1187 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE DEZEMBRO DE 2021.

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