Cultura
A caudalosa biografia de João Cabral de Melo Neto quebra a sisudez do poeta
Dividido em 20 capítulos, o livro detalha a criação cabralina, ao mesmo tempo que oferece uma contextualização social, política e literária


Logo na segunda página de João Cabral de Melo Neto – Uma Biografia (Todavia, 560 págs., 93,42 reais), Ivan Marques define assim o nome do personagem que destrinchará: “um perfeito verso octossílabo”. A definição, se diz muito sobre o poeta pernambucano, diz muito também sobre Marques, ele próprio um prosador afeito à sonoridade das palavras e ao equilíbrio rítmico.
Sendo Marques professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo e autor de livros sobre o Modernismo, sobre Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos, não chega a surpreender a qualidade da análise literária e histórica que alinhava a narrativa. Surpreende, por outro lado, a escrita ser tão cheia de vida e de graça.
Dividida em 20 capítulos, a biografia começa no Carnaval da década de 1940, quando, chegado do Recife com a família, o jovem João Cabral, magro e aprumado, enfrenta a timidez e vai, graças à intermediação de Murilo Mendes, conhecer Drummond. A descrição do encontro dá o tom do que se seguirá: um rico entrelaçamento entre vida e obra.
O biógrafo detalha a criação cabralina, detendo-se sobre cada livro do escritor, ao mesmo tempo que oferece uma contextualização social, política e literária. Se, como escreve Marques, João Cabral, “embora tímido, tinha lá seus atrevimentos”, ele mesmo, embora sistemático na pesquisa, também teve lá os seus, revelando anedotas do meio cultural brasileiro e surpreendendo o leitor com as idiossincrasias do sisudo poeta. •
VITRINE
Em sua estreia na literatura, Douglas Stuart ganhou logo o Booker Prize. A História de Shuggie Bain (Intrínseca, 528 págs., 79,90 reais), premiado em 2020 e agora lançado no Brasil, acompanha a saga de um garoto que, como o autor, cresceu na decadente Glasgow do início da década de 1980.
A coleção Feminismos Plurais, coordenada por Djamila Ribeiro, coloca mais um tijolo em seu importante trabalho de (re)construção da história das mulheres negras com Trabalho Doméstico (Jandaíra, 248 págs., 29,90 reais). Juliana Teixeira, a autora, é filha de uma trabalhadora doméstica e doutora pela UFMG.
Um ano depois de A Pequena Outubrista, um retrato duro sobre a experiência em hospitais psiquiátricos, a Editora Rua do Sabão lança uma segunda obra da autora sueca Linda Boström Knausgård: Bem-Vinda à América (120 págs., 49 reais). A protagonista, desta vez, é uma menina que decide ficar para sempre em silêncio.
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1187 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE DEZEMBRO DE 2021.
CRÉDITOS DA PÁGINA: RENAN CEPEDA/FOLHAPRESS
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