Opinião
De alma lavada
Não faz nem uma semana que acabou a Copa Libertadores da América e, embora tivesse sido muito difícil para o Flamengo responder, antes do jogo, às incessantes perguntas sobre o favoritismo na final, a derrota para o Palmeiras parece ter sido processada pelos torcedores do […]
Não faz nem uma semana que acabou a Copa Libertadores da América e, embora tivesse sido muito difícil para o Flamengo responder, antes do jogo, às incessantes perguntas sobre o favoritismo na final, a derrota para o Palmeiras parece ter sido processada pelos torcedores do time carioca.
A saída imediata do treinador do time carioca, de quem os torcedores tinham uma “bronca” que ia crescendo dia a dia, aliviou bastante a ira dos rubro-negros. E o jogo seguinte à final da Libertadores, contra o Ceará, ao contrário de ser depressivo, foi um “peladão” animado. O que não dá para evitar é a gozação de todas as outras torcidas.
No começo das discussões sobre o desempenho do Flamengo, o principal argumento a favor do time era o elenco, constituído por vários jogadores que, nos últimos títulos, haviam sido decisivos. Mesmo sabendo dos problemas físicos de alguns deles, valia a máxima: craque é craque.
Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais nítida a importância do uruguaio Arrascaeta para o conjunto rubro-negro. O atleta, com sua lucidez privilegiada, criou no time quase uma dependência. Quase sem jogar desde as eliminatórias, portanto, “à meia-bomba”, deu um passe magistral no gol do Flamengo, num lance muito semelhante aos do futebol de botão.
Do outro lado, o que se tinha era um Palmeiras mais inteiro, com todos os jogadores em plena forma, e dedicado quase exclusivamente à decisão da Libertadores.
Repassando a trajetória relâmpago de Renato Gaúcho pelo Flamengo, encontrei uma declaração em que ele dizia: “Quem tudo quer, nada tem”. Essa sabedoria ele não conseguiu impor ao Flamengo.
O técnico insistiu sempre que ainda havia chances nas outras disputas em que o clube estava envolvido e, com isso, acabou saindo de mãos abanando do time, apenas três meses depois de ter chegado. Se aceitou assinar um contrato tão curto, logo após a saída de Jorge Jesus do time, é porque, provavelmente, apostou no peso do elenco.
Embora viesse jogando bem e se mostrasse sempre decisivo, o atacante Bruno Henrique também não estava no auge. Já os gols perdidos por Gabigol evidenciaram reflexos tardios. No primeiro deles, junto à trave direita de Weverton, goleiro do Palmeiras, ele foi de pé trocado. No segundo lance, junto ao poste oposto, a bola, que era para a cabeça, caiu no “pé bobo”. Ambos os gols ele teria feito facilmente se estivesse em dia.
Renato Gaúcho, por sua vez, deixou o Flamengo
Agora com tudo resolvido e o Palestra rumo ao Mundial de Clubes, é natural que se cantem “loas” ao técnico do time, Abel Ferreira. Confesso, no entanto, que fiquei chocado com a orientação do ex-jogador português de recuar o time todo. A mim parece que é quase um suicídio. É claro que o gol do Flamengo aconteceria a qualquer momento, tendo o alviverde abdicado completamente de atacar.
De toda forma, escalar o ótimo Gustavo Scarpa, aberto e atrás, para impedir a armação do inteligente Everton Ribeiro, fechando assim o lado direito do Flamengo, foi um ato corajoso do técnico palmeirense.
Disso passamos ao gol de Deyverson – um mau ator, por sinal. Me parece ter sido uma sabedoria do técnico português sustentar o “maluquinho” no elenco coroado do Palmeiras. Colocá-lo em campo àquela altura do jogo surtiu efeito: acabou de desarticular a defesa do Flamengo.
O gol instantâneo, com lançamento espetacular do zagueiro paraguaio Gustavo Gómez, também deve ser atribuído ao grande trabalho de Abel Ferreira. Foi um ato cirúrgico que abriu a vitória alviverde.
Ao fim da partida, à beira do gramado, o dedicado treinador descarregou o elevado nível de tensão a que havia sido submetido nos últimos dias: com seu sotaque carregado, chamou os críticos de “malucos”. Agora valorizado, pode descansar junto à família que deixou na “Terrinha”.
No fim das contas, a vitória do Palmeiras fez prevalecer o time mais coeso sobre a equipe que está em um momento de baixa – como reconhecem os próprios dirigentes do Flamengo, que já estão tratando de reformular o elenco. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1186 DE CARTACAPITAL, EM 2 DE DEZEMBRO DE 2021.
CRÉDITOS DA PÁGINA: JUAN MABROMATA/AFP
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