Política

Em abrigos, ‘paredes’ são erguidas com lona ou de sacos de lixo

“Precisa dar um jeito naquele banheiro. Está fedendo demais!”, pede voluntária

Em abrigos, ‘paredes’ são erguidas com lona ou de sacos de lixo
Em abrigos, ‘paredes’ são erguidas com lona ou de sacos de lixo
Alojamento para onde foram levadas as famílias expulsas no Pinheirinho. Foto: Murilo Machado
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Por Daniella Cambaúva e Murilo Machado

As centenas de pessoas que estão abrigadas no Núcleo de Educação Infantil do Jardim Morumbi, em São José dos Campos, chegaram lá a pé. Inicialmente alojadas na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a poucas quadras da ocupação do Pinheirinho, tiveram de deixar o local a pedido do padre da paróquia.

Sob calor de 35ºC, os 800 desabrigados caminharam cerca de 1 hora pelos 2,7 quilômetros que separam os dois lugares na quarta-feira seguinte à operação de reintegração de posse, iniciada no domingo 22.

Antes mesmo de chegarem à nova casa, a primeira surpresa: não havia lugar para todos, de modo que dezenas de pessoas foram transferidas para outros dois abrigos mantidos pela prefeitura.

Algumas famílias se refugiam onde há algum pedaço de telhado que possa servir como um espaço coberto.

Para delimitar seu canto, pessoas erguem paredes feitas de lona ou de sacos de lixo amarrados. Outras moram no ginásio da escola, sob telhas de amianto, colocando seus colchões no chão da própria quadra ou sobre os degraus da arquibancada, uns ao lado dos outros.

Ventilador e televisão são artigos de luxo: poucos conseguiram recuperar quaisquer objetos de suas casas antes da demolição.

Manter aquele espaço limpo é uma batalha diária. Em todo o abrigo, só existe um banheiro feminino e outro masculino, que estão sempre lotados. À entrada dos banheiros, dorme uma pessoa em um colchão, apesar do inevitável mau cheiro que há por ali. Ao entrar no sanitário, veem-se cabines com vasos, um chuveiro com água quente e um pedaço grande de plástico que serve de cortina.

Ao perceber o trabalho da reportagem, uma mulher de estatura média e voz estridente logo se aproxima. “Vocês são de onde?”, questiona Rita de Cássia. Ela passa o dia todo no alojamento, voltando à sua casa apenas para dormir.

Não morava no Pinheirinho, e foi ao abrigo pela primeira vez para se informar como sua mãe, que vivia na ocupação, deveria se cadastrar para receber o auxílio-aluguel.

Decidiu ficar ali e logo assumiu algumas funções. Como na escola não há espaço para cozinhar, a prefeitura fornece três refeições diárias que ela ajuda a distribuir entre as famílias.

Enquanto anda pela quadra, adverte o funcionário da prefeitura, que tentava consertar um ventilador: “Precisa dar um jeito naquele banheiro. Está fedendo demais!”.

Por Daniella Cambaúva e Murilo Machado

As centenas de pessoas que estão abrigadas no Núcleo de Educação Infantil do Jardim Morumbi, em São José dos Campos, chegaram lá a pé. Inicialmente alojadas na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a poucas quadras da ocupação do Pinheirinho, tiveram de deixar o local a pedido do padre da paróquia.

Sob calor de 35ºC, os 800 desabrigados caminharam cerca de 1 hora pelos 2,7 quilômetros que separam os dois lugares na quarta-feira seguinte à operação de reintegração de posse, iniciada no domingo 22.

Antes mesmo de chegarem à nova casa, a primeira surpresa: não havia lugar para todos, de modo que dezenas de pessoas foram transferidas para outros dois abrigos mantidos pela prefeitura.

Algumas famílias se refugiam onde há algum pedaço de telhado que possa servir como um espaço coberto.

Para delimitar seu canto, pessoas erguem paredes feitas de lona ou de sacos de lixo amarrados. Outras moram no ginásio da escola, sob telhas de amianto, colocando seus colchões no chão da própria quadra ou sobre os degraus da arquibancada, uns ao lado dos outros.

Ventilador e televisão são artigos de luxo: poucos conseguiram recuperar quaisquer objetos de suas casas antes da demolição.

Manter aquele espaço limpo é uma batalha diária. Em todo o abrigo, só existe um banheiro feminino e outro masculino, que estão sempre lotados. À entrada dos banheiros, dorme uma pessoa em um colchão, apesar do inevitável mau cheiro que há por ali. Ao entrar no sanitário, veem-se cabines com vasos, um chuveiro com água quente e um pedaço grande de plástico que serve de cortina.

Ao perceber o trabalho da reportagem, uma mulher de estatura média e voz estridente logo se aproxima. “Vocês são de onde?”, questiona Rita de Cássia. Ela passa o dia todo no alojamento, voltando à sua casa apenas para dormir.

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