

Opinião
Dois mil e um, aquele ano
As anotações, os arquivos de um historiador estão em cima da mesa, uma espécie de linha do tempo


Quando os Mutantes subiram ao palco do Teatro Record, em 1969, Rita Lee de noiva, com um vestido resgatado no camarim da TV Globo, para cantar 2001, aquele ano estava muito longe ainda. A música dos três mutantes, em parceria com Tom Zé, era futurista e caipira ao mesmo tempo. Tudo junto.
Astronauta libertado
Minha vida me ultrapassa
Em qualquer rota que eu faça
Dei um grito no escuro
Sou parceiro do futuro
Na reluzente galáxia
O ano de 1968 tinha terminado e vivíamos o auge da era espacial. O astronauta libertado pisou na lua, colocou lá aquela bandeira americana, deu um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade.
Mas 2001 acabou chegando e hoje fazendo vinte anos. Era um ano esperado, místico, um ano que sonhávamos tipo Jetsons, carros voando, apertando botões, vozes metálicas respondendo a velhos problemas.
As anotações, os arquivos de um historiador estão em cima da mesa, uma espécie de linha do tempo. Quer saber algumas coisas que aconteceram em 2001?
Assistimos A Fuga das Galinhas. O governador de São Paulo disse: “eu não vou morrer porque eu não quero”. A alemã Dagmar Polzin pediu em casamento Bobby Lee Harris, um homem condenado à morte que apareceu num anúncio da Benetton. O jornal inglês The Observer elegeu a canção Imagine, de John Lennon, como a melhor música de todos os tempos. No Oregon, foi criado o primeiro primata transgênico, um macaco reso.
O Brasil perdeu Luiz Bonfá, compositor de Manhã de Carnaval e o atleta Adhemar Ferreira da Silva. Estreou o BBB2, a sequência do DNA do arroz foi decodificada, um terremoto na Índia matou mais de 2.250 pessoas, o urso panda Ling Ling voou de Tóquio para a Cidade do México para se encontrar com sua parceira.
Depois de um acidente de ultraleve, o paralama do sucesso Herbert Viana entrou em coma, enquanto sua mulher, Lucy Needham, morreu na hora. A nave robô Near Schoemaker pousou num corpo celeste de pequena dimensão, enquanto João Gilberto ganhou um Grammy pelo disco Voz e Violão.
Nasceu Yuan Yuan, a primeira cabra chinesa clonada, enquanto Mario Covas acabou morrendo, vítima de um câncer. Mulheres do MST apedrejaram uma loja do McDonalds em Porto Alegre e o Taleban começou a implodir patrimônios da humanidade no Afeganistão. Herbert Viana saiu do coma e cantou duas canções dos Paralamas. Um ataque cardíaco matou John Phillips, o papa dos Mamas & Papas, aos 65 anos.
O ministro Celso de Mello, do STF, concedeu habeas-corpus a Antônio Pimenta Neves, assassino de sua ex-namorada, Sandra Gomide. Um casal de araras azuis deixou Cingapura e foi repatriado ao Brasil. Gladiador levou o Oscar de melhor filme. O Datafolha dava Lula em primeiro lugar, seguido de Ciro, Itamar, Serra, Maluf, ACM, Garotinho e Enéas, para as eleições presidenciais de 2002.
A seleção australiana de futebol venceu a seleção de Samoa Americana por 31 a 0. Marta e Eduardo Suplicy anunciaram o fim de um casamento, Fernandinho Beira-Mar foi preso na Colômbia e um acidente automobilístico matou o piloto de Fórmula 1 Michele Alboreto aos 44 anos. Enquanto nós perdemos a escritora Maria Clara Machado, que se foi aos 80 anos.
Trinta e um ano depois, Ronald Biggs, o assaltante do trem pagador, voltou para o seu país, a Inglaterra. Aos 71 anos, o futebol brasileiro se despediu do craque Didi, mestre da folha seca. Um relatório mostrou que a devastação da Amazônia cresceu 15%, enquanto a maconha, como remédio, foi vetada nos Estados Unidos.
Uma nova lei obrigou os fabricantes de cigarros, a usarem imagens contra o fumo em suas embalagens. O América Mineiro foi o novo campeão mineiro. O titã Marcelo Fromer morreu aos 39 anos, atropelado por uma moto. O novo prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, foi eleito o primeiro prefeito gay na Alemanha. Um maçarico-do-papo-vermelho levou 10 dias para voar da Ilha de Campechá, no Maranhão, até Slaugther Beach, nos Estados Unidos.
Os japoneses apresentaram ao mundo a melancia quadrada. O blues perdeu John Lee Hoocker e o juiz Nicolau, o Lalau, deixou a prisão e comemorou comendo pizza.
Calma, ainda estamos em junho.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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