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‘Virou a casa da mãe Joana e ficou feio para o governo’, diz relator da MP do Auxílio Brasil
‘Quem faz mal feito faz duas vezes’, afirmou Marcelo Aro horas depois de a gestão federal cancelar o anúncio dos detalhes do programa


O deputado federal Marcelo Aro (PP-MG), relator da Medida Provisória que institui o programa Auxílio Brasil, disse nesta terça-feira 19 que não aceitará incluir no texto qualquer benefício temporário. Ele criticou a condução do processo pelo governo de Jair Bolsonaro.
A gestão federal planejava anunciar nesta terça os detalhes do programa, que substituirá o Bolsa Família. A tendência é de que o benefício seja de 400 reais por mês até o fim de 2022. Aro, porém, criticou a possibilidade de que 100 reais de cada parcela fossem pagos fora do teto de gastos, como um auxílio temporário até o fim do ano que vem.
“Eu sou um defensor da renda básica universal. Enfim, eu tenho toda a minha pauta voltada pra isso, mas eu não posso aceitar, dentro de uma medida provisória que nós estamos mudando o conceito, toda a estrutura de um programa social, a gente colocar no meio um auxílio temporário que no meu ponto de vista só tem um único objetivo, um cunho eleitoral, né?”, disse Aro a jornalistas no fim da tarde.
Agora, segundo o deputado, o governo considera a possibilidade de inserir o benefício temporário na PEC dos Precatórios, que tramita na Câmara. “E eu vou confessar para vocês que eu me sinto mais tranquilo assim. Eu ficaria muito desconfortável de ter na medida provisória que eu relato um auxílio que eu sei que não vai permanecer para o cidadão mais carente”.
Essa proposta autoriza o governo a parcelar o montante de dívidas judiciais que deveriam ser pagas em 2022. Com isso, a gestão Bolsonaro abriria espaço no orçamento e poderia bancar o novo programa social, visto como fundamental para a tentativa do ex-capitão de se reeleger.
“Quem faz mal feito faz duas vezes. Virou a casa da mãe Joana. Foi falado um valor, mas de onde vai tirar o dinheiro? ‘Não sei, se virem’. Aí cria um temporário, aí organiza evento para o anúncio. Alguém deve ter virado e falado: ‘Mas está tudo certo? Tem orçamento?’. Até que chegaram à conclusão de que não dava para anunciar”, prosseguiu Marcelo Aro. “Ficou feio para o governo. Marcou evento, cancelou evento. Agora, o governo é que tem que nos dar respostas”.
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