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El Patrón

“Que crime desorganizado”, escreve Pablo Escobar, direto do além, sobre o helicóptero dos Perrela apreendido com cocaína

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Tenho dois sentimentos, o que é bastante para quem acreditava que eu não tinha nenhum, em relação a esse episódio do helicóptero da empresa do deputado Gustavo Perrella, filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), apreendido com quase meia tonelada de cocaína. Por um lado, uma enorme admiração por quem aposta no mercado de cocaína, apesar de todas as dificuldades, sem falar no custo Brasil e, por outro, uma vergonha pelo amadorismo dos responsáveis. Pergunto: pra que abastecer o helicóptero com a verba da cota de atividade parlamentar?

O profissionalismo é requisito em qualquer atividade. Seja ela legal ou não. Uma das minhas declarações mais conhecidas é El día que vaya a hacer algo malo, hágalo bien hecho. Para evitar minha extradição para os Estados Unidos, por exemplo, invadi o Supremo Tribunal colombiano e matei metade dos ministros. Foi o jeitinho que encontrei pra que eles aceitassem meus argumentos.

Entenda. Não critico a apropriação do dinheiro público pra frete de cocaína. Isso eu acho o máximo. E, ao que parece, estava até dentro do regimento interno da Câmara dos Deputados. Mas repare o custo disso. O caso envolvendo os deputados já estava sendo abafado, o piloto já era o único e principal suspeito, quando chega essa informação pra mídia. Até quem não estava muito a fim de noticiar teve de dar manchete. Pra que se complicar por meia dúzia de litros de querosene?

Outra prova de amadorismo: a falta de treinamento desse piloto. Não me refiro ao número de horas de estudo e voo. Mas, sim, ao treinamento jurídico. O piloto declarou que fez duas ligações para o deputado Perrella antes de voar o frete e que pediu autorização para o voo. Isso é lá coisa que se diga? Como não assume tudo? E se declarou o que declarou, como é que ainda está vivo? Seja lá quem for, cadê o seu Patrón numa hora dessas? Francamente, que crime desorganizado.

Bom, pra finalizar, é preciso também deixar claro que não considero a apreensão de 450 quilos de cocaína no helicóptero de um deputado, filho de um senador da República, uma grande notícia. Gente, isso faz parte do dia a dia do negócio. Não passa de um problema banal de fiscalização e distribuição. Isso seria como noticiar que alguém em alguma empresa não entregou um relatório ou que chegou atrasado em uma reunião. Qualquer tentativa de transformar esse caso em escândalo é, no mínimo, sensacionalismo.

 

Sobre mim

Considerado o mais brutal, impiedoso, ambicioso e poderoso traficante da história. Mas não penso nisso quando acordo nem deixo que me suba à cabeça, procuro agir como um sujeito normal.

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