Cultura
Tipo NET!
Como eu gostaria de ligar e ouvir do outro lado da linha um ser humano dizer: Olá, como vai?
Disquei para a NET, tocou uma, duas, três vezes e atendeu. Quando eu ensaiei dar um bom dia, a voz foi mais rápida que eu.
– Obrigado por ligar para a Net. Eu já verifiquei no meu sistema o número do qual você está ligando. Aguarde um momento enquanto eu acesso o seu cadastro.
Tec Tec Tec…
Num primeiro momento, achei mesmo que alguém, muito prestativo, estava teclando em busca do meu cadastro. Mas era uma máquina.
– Pronto. Se você precisa falar sobe um problema técnico ou uma visita técnica, digite 1.
Pensei com os meus botões. Sim, sem Internet, tenho um problema técnico, mas antes de levar o dedo até à tecla 1, a voz continuou:
– Se o assunto é sua fatura ou algum dos seus pagamentos, digite 2.
Já que perdi o 1, vou discar o 2 e explico que tenho um problema técnico. Mas o meu dedo foi lento demais.
– Se você quiser contratar um novo serviço, o nosso novo Combo com Celular, o Now ou trocar de pacote, digite 3.
Não era nada disso que eu queria. Pensei em desligar e começar tudo de novo quando ouvi…
– Para compra de programação de TV como futebol ou filme, digite 4.
Estava pronto para desligar quando a voz continuou…
– Agora se você precisa de ajuda sobre outro assunto, por exemplo, mudança de endereço ou Combo Multi, digite 5.
Decidi teclar o 6 antes mesmo de ouvir qualquer coisa mas a voz não pensou duas vezes.
– Se quiser cancelar sua assinatura ou um de seus serviços, digite 7.
Sete? Como assim? Eu me atrapalhei todo. Mas cadê o 6? Enquanto pensava: Será que não tem a opção 6, veio a voz…
– Para reclamações, digite 8.
É isso! Reclamações! Vou digitar rapidinho o 8. Mas, antes que eu digitasse…
– E para falar com nosso representante a qualquer momento, aguarde um instante.
Respirei aliviado. Resolvi aguardar pacientemente o representante para descascar o verbo. Preparei um discurso, fechei os olhos, respirei fundo.
A ligação caiu.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.