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Afastado de Bolsonaro, Fraga diz que ‘falta sensibilidade do presidente com as mortes’
Ex-deputado perdeu esposa para Covid-19, não culpa diretamente o ex-capitão, mas diz ter se decepcionado com condução da pandemia


O ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), bolsonarista e criador da bancada da bala, decidiu romper 40 anos de amizade como presidente Jair Bolsonaro após perder a esposa Mirta para a Covid-19. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo nesta segunda-feira 13, ele explicou que a ‘falta de sensibilidade do presidente com relação à morte’ foi um dos motivos que o levaram a se afastar do ex-capitão.
Braga diz não culpar Bolsonaro diretamente pela morte, nem gosta que o façam, mas não compreende os motivos do presidente não se sensibilizar com a situação de quem perdeu familiares. Outras discordâncias da condução do governo federal durante a pandemia também foram apontadas pelo ex-amigo como causadores do rompimento.
“Eu disse algumas vezes [a Bolsonaro] que a economia se recuperava. As vidas não. Isso fez com que, em diversas situações, eu fosse me decepcionando com algumas posturas. Eu não consigo entender essa falta de sensibilidade do presidente com relação à morte das pessoas”, afirma Fraga, ressentido com a situação.
Apesar de não atribuir a morte da esposa de apenas 56 anos ao presidente, Fraga acredita que a vacina não comprada rapidamente pelo governo poderia ter a salvado, assim como muitos dos quase 600 mil mortos durante a pandemia.
“O sentimento mais comum de todos nós que passamos uma situação dessa é que gostaríamos de ter tido a vacina o mais rápido possível. E a gente sabe que a vacina foi politizada [por Bolsonaro]. Esse foi o grande problema. […] Com isso, evidentemente muitas pessoas vieram a óbito porque não tiveram a oportunidade de se vacinar”, explica.
Para ele, Bolsonaro não foi visitá-los no hospital e nem compareceu ao enterro de Mirta, apenas mandou mensagens. Após o ocorrido, Fraga então se afastou do ex-capitão a quem inclusive bloqueou no WhatsApp, segundo relatou.
Na entrevista, o ex-deputado ainda criticou a postura de aliados do presidente, como o general Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria-Geral, que só diria ‘sim, senhor’ e ‘não, senhor’ ao presidente.
O relacionamento de Bolsonaro com o Centrão também foi criticado por Fraga. Segundo afirmou, mesmo com gastos exorbitantes com emendas parlamentares, o presidente não conseguiu formar uma base sólida para governar, o que pode acabar em impeachment.
“Acredito em impeachment se, porventura, houver algum tipo de esgarçamento na relação entre o Centrão e ele. Se o Centrão pular do barco, a situação se complica. Já tem nove partidos falando em impeachment. O presidente deveria ter usado o poder de mobilização para dizer coisas boas para o País, ele perdeu uma grande oportunidade”, afirma.
Na conversa, Fraga minimizou ainda a chance de ruptura institucional, principalmente por parte de policiais militares, grupo ao qual esteve fortemente ligado durante seus mandatos.
“Não existe a menor chance de as polícias se insurgirem. Quem está na ativa sabe os riscos que corre. Tem família. Se um cara desse for expulso, Bolsonaro não vai conseguir reintegrá-lo”, analisou.
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