Política
Blogs bolsonaristas distorcem reportagem de CartaCapital e divulgam fake news sobre a Vaza Jato
Objetivo é descaracterizar a delação de um jovem de 19 anos para ligar o PT – e até Lula – à Operação Spoofing, de olho nas eleições de 2022
Blogueiros e outros representantes do bolsonarismo na internet se aproveitaram de uma reportagem publicada por CartaCapital para divulgar fake news sobre o processo que apura a ação de hackers contra celulares dos procuradores da Operação Lava Jato e do ex-juiz Sergio Moro.
Como informa a matéria assinada por Glenn Greenwald, Letícia Oliveira, Sofia Schurig e Victor Pougy, um grupo de agentes da Polícia Federal utiliza táticas similares às da Lava Jato para atacar a reputação de inimigos políticos e, possivelmente, influenciar o resultado das eleições de 2022.
A reportagem de CartaCapital explica, baseada em documentos secretos das investigações da Operação Spoofing, a fragilidade das alegações de que o ex-ministro petista Antonio Palocci seria o mandante da invasão dos celulares de autoridades. Os bolsonaristas, por outro lado, distorcem documentos e mentem para tentar, de alguma forma, ligar Lula e o PT ao episódio. Um desses é Oswaldo Eustáquio, em uma página chamada Diário Popular de SP.
Ele alega, sem qualquer evidência, que Lula, o ex-ministro José Eduardo Cardozo e Palocci arquitetaram a ação dos hackers. Para isso, faz livre interpretação da delação premiada do estudante Luiz Henrique Molição, 19 anos, o mais jovem dos seis indiciados pela PF na Spoofing.
Eustáquio diz que “o elo” entre Palocci e os hackers seria Luanna Costa, “amiga próxima” do ex-ministro. Ao contrário do que sugere o bolsonarista, entretanto, a única relação – se assim podemos defini-la – é o fato de Luanna ser ex-namorada do filho de Artur Watanabe, secretário de Saúde de Ribeirão Preto no período em que Palocci foi prefeito da cidade, há 20 anos.
Outros blogs bolsonaristas, mais ou menos conhecidos, repercutiram as notícias falsas. Nas redes sociais, políticos e internautas de extrema-direita replicaram essa abordagem – insistindo, inclusive, na afirmação mentirosa de que Luanna Costa seria sobrinha de Palocci.
No texto que os bolsonaristas espalham , o blogueiro diz que suas supostas revelações deveriam “fazer valer novamente as condenações de Lula”. CartaCapital mostrou que, ao que tudo indica, o nome de Palocci sempre esteve na ponta da língua dos investigadores. Atualmente, o grupo político que se elegeu com o discurso da anticorrupção, mas que aparelhou a PF, quer sobrepor o nome do ex-ministro na Operação Spoofing não somente para influenciar as eleições de 2022, mas para desacreditar o conteúdo das mensagens divulgadas pela mídia.
Assim, exceto pela delação que extraíram de um jovem assustado que ficou preso por meses, o inquérito é completamente desprovido de qualquer evidência a ligar o ex-petista à trama. Mas, assim como aconteceu durante a Lava Jato, o objetivo não é acusar Palocci criminalmente, uma vez que o caso contra ele não se sustenta. O objetivo do inquérito é construir uma versão que possa ser vazada para a mídia amiga na esperança de prejudicar o PT. A PF nunca terá de provar suas alegações em um tribunal real, mas apenas no tribunal da opinião pública.
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