Cultura
O samba de alma inquieta
Germano Mathias e seu disco Raiz e Tradição: o novo virado à paulista do samba carioca
por Tárik de Souza
Raiz e Tradição
Germano Mathias
Genesis Music
Branco, do bairro do Pari, descendente de portugueses, criado entre fados e viras, Germano Mathias converteu-se ao samba nos batuques dos engraxates nas praças do centro paulistano, no início dos anos 1950. Imantado pelo fraseado do sambista negro gaúcho Caco Velho (Matheus Nunes) e o sincopado dos compositores dos morros cariocas, como Padeirinho da Mangueira e Zé Kétti, ele criou um tipo original, entre malandro e ingênuo, a bordo de sucessos ritmados (Guarde a Sandália Dela, O Baile do Risca Faca, Falso Rebolado, A Situação do Escurinho), nem sempre politicamente corretos (Minha Nega na Janela). Quase 50 anos de carreira de altos e baixos depois, Germano ressurge com um novo disco, após o alentado DVD retrospectivo Ginga no Asfalto, de 2007, onde esbanjava habilidades na cuíca e no trombone de boca. Por causa de uma queda do palco numa de suas endiabradas performances, perdeu a mobilidade no braço direito e não pode retinir a latinha à guisa de frigideira ou tamborim, aprendida com os engraxates.
Ao lado de uma inédita de seu biógrafo Caio Silveira Ramos (Lua nova), Raiz e Tradição garimpa pepitas obscuras gravadas por cantores formadores da aura sonora irrequieta de Germano. Como outro de seus modelos, Jorge Veiga, o chamado caricaturista do samba, de quem escalou Cinzas (1946), Boa Noite, como passou (1948) e O fruto da Maldade (composição de Nelson Cavaquinho, de 1951). A velocista Ademilde Fonseca é evocada em Meu Senhor (1951), o sinuoso Jackson do Pandeiro em Ginga da Mulata (1953), assim como as irmãs Linda (Abre a Porta, 1940) e Dircinha Batista (Entrego a Deus, 1949). Sob arranjos liderados por trombone, bandolim, sax, flauta, cavaquinho mais percussão acidentada por síncopas, Germano condimenta um suculento virado à paulista do samba carioca.
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