Cultura
O estranho obstáculo parental
Em “A Conquista Social da Terra”, Edward O. Wilson, conhecido como o principal fundador da sociobiologia, dá um passo à frente na tentativa de explicar o comportamento humano
Por Renato Pompeu
A Conquista Social da Terra
Edward O. Wilson
Companhia das Letras, 392 págs., R$ 54
Neste A Conquista Social da Terra, o principal fundador da sociobiologia, o americano Edward O. Wilson, dá um passo à frente em relação a trabalhos anteriores, mas sempre dentro de sua linha principal de explicar o comportamento humano, nele incluídas as artes, a política, a religião e a própria noção de livre-arbítrio, a partir de condicionamentos biogenéticos. Aqui, Wilson, aos 83 anos, dá mais subsídios às teses que inicialmente divulgou em 2010, segundo as quais o comportamento altruístico em relação a todos os integrantes de um grupo, sejam ou não aparentados, é mais importante do que o comportamento altruístico entre parentes consanguíneos. Esquematizando-se, o dever, geneticamente originado, de morrer pela pátria (ou pelo formigueiro) é mais importante para a sociedade do que o dever, igualmente originado, de morrer para salvar um filho.
A constatação despertou a ira da maioria dos sociobiólogos antes fãs de Wilson dedicados aos estudos da chamada evolução parental e agora colocados diante do fato de que seu guru a minimiza em relação à evolução grupal. Para irritar ainda mais os antigos seguidores, Wilson agora defende que a seleção grupal é responsável pelas virtudes morais altruísticas, enquanto a seleção parental pelos maus instintos do ser humano. O resultado é que a maioria dos sociobiólogos ficou tão irritada com Wilson quanto os cientistas sociais e humanistas em geral em relação à sua postulação de que todos os comportamentos, pensamentos e escolhas humanas sofrem determinações biológicas.
Ironicamente, nascido em 1929 em Birmingham, Alabama, no auge das violências contra os negros nos Estados Unidos, Wilson teve a carreira de pesquisador de animais sociais determinada por um drástico acaso mais socialmente externo a ele do que determinado internamente por sua biogenética. Como entomólogo, ele pretendia estudar moscas, que não são insetos sociais, mas, diante da Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma escassez de alfinetes para prendê-las. Assim, ele teve de optar pelas formigas e, depois, por outros animais sociais, como nós, iniciando por acaso sua brilhante carreira de sociobiólogo.
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