Cultura

Não imaginava nem ir ao Recife, mas cheguei à França, diz mestre Luiz Paixão

Ícone da cultura do Nordeste empunha sua rabeca, fala do mais recente trabalho e comemora os 60 anos de carreira

Não imaginava nem ir ao Recife, mas cheguei à França, diz mestre Luiz Paixão
Não imaginava nem ir ao Recife, mas cheguei à França, diz mestre Luiz Paixão
Foto: Mateus Sá/Divulgação
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Homem de voz simples e humilde, Mestre Luiz Paixão vai contando a sua história. Teve contato com rabeca porque seu avô a tocava, mas não podia chegar perto do instrumento quando criança. A família não deixava. Foi então que começou a pegá-la escondido para fazer aquilo que o levou a conhecer o mundo.

“Eu nasci num engenho – não era chácara nem fazenda -, chamado Palmeira, no município de Aliança. Hoje, tenho meu conhecimento e já levei para outros países”, diz.

“Fui aos Estados Unidos e muito para a França. Aqui no Brasil já rodei um bocado de canto. Não imaginava nem ir à capital Recife. Nem imaginava chegar perto dela. Hoje estou feliz”.

Mestre Luiz Paixão, quando criança, cortava cana-de-açúcar no canavial na zona da mata norte de Pernambuco. Atualmente, morando em Condado, município vizinho de onde nasceu, com 72 anos e 60 empunhando sua rabeca, tornou-se um ícone do Nordeste.

“Ele é um dos últimos mestres da cultura popular da região”, afirma João Selva, músico, produtor e diretor artístico do terceiro álbum solo do rabequeiro. Ele conta que a rabeca veio do norte da África e, dali, se popularizou na Península Ibérica na Idade Média.

Acabou, no entanto, caindo em desuso na Europa com a popularização do violino no século XVIII. Mas continuou se desenvolvendo nas Américas. “O Brasil, por conta do calendário de festas, levou muito à frente o instrumento”, afirma João.

Luiz Paixão começou a ir para o exterior nos anos 1990, quando foi convidado para tocar num congresso de musicologia nos Estados Unidos. Tempos depois, quando foi se apresentar para um grupo de violonistas na França, “todos ficaram impressionados”, lembra o produtor.

O rabequeiro relata que antes se limitava a tocar nas cidades vizinhas onde nasceu, o ritmo proveniente do folguedo cavalo marinho, cuja representação musical envolve a rabeca e instrumentos de percussão típicos do Nordeste, além de outros gêneros tradicionais regionais, como a ciranda, o coco e o forro. Durante 40 anos, ele conciliou o trabalho no campo com a vida de músico.

O primeiro álbum solo do mestre foi Pimenta com Pitú (2005). Depois, veio Arte da Rabeca (2013). Neste terceiro álbum, recém-lançado pelo Selo Sesc, com o nome Forro de Rabeca, Mestre Luiz Paixão apresenta seu virtuosismo e os ritmos regionais que executou ao longo de sua história.

São 14 composições entre inéditas autorais e outras de domínio público. O trabalho tem a participação do cantor Siba e da cantora e rabequeira Renata Rosa.

O álbum é uma exaltação a esse instrumento precursor do violino e que no Brasil ganhou vida, cor e relevância própria nas lavouras de cana-de-açúcar. Mestre Luiz da Paixão é a cultura popular ainda pulsante, rica, nobre e referencial.

A banda do álbum Forro de Rabeca é composta por Rodrigo Samico (violão 7 cordas, cavaco, baixo e guitarras), Guga Santos (caixa, ilú, pandeiro, surdo e tamancos), Mina (pandeiro, bage, ganzá e voz), Leandro Silva (bombo, pandeiro, surdo, tamancos e zabumba), Stef Pai Véio (ganzá, maracás, pandeiro e tamancos), Sidraque (bage, ganzá, triângulo e voz), Maíca (bage e voz) e João Selva (voz).

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