Sustentabilidade
Floresta amazônica pode se tornar uma emissora de CO2, diz estudo
‘Tanto o desmatamento quanto a degradação florestal reduzem a capacidade da Amazônia de atuar como um sumidouro de carbono’, afirmam autores


Grande parte da floresta amazônica se tornou uma emissora de CO2, devido principalmente às queimadas, ao invés de seu papel tradicional absorvendo o dióxido de carbono, o que agrava as mudanças climáticas. É o que aponta um estudo publicado nesta quarta-feira (14) na revista Nature.
Com base em centenas de amostras de ar coletadas em diferentes alturas na última década, o estudo afirma que a parte sudeste da Amazônia passou de um sumidouro a uma fonte de emissão de CO2, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global.
Durante o último meio século, as plantas e os solos absorveram mais de 25% das emissões de CO2, enquanto essas emissões aumentaram em até 50%.
Mas a Amazônia – que abriga metade das florestas tropicais e armazena 450 bilhões de toneladas de CO2 em suas árvores e solos – se transformou em uma fonte de emissões.
“Tanto o desmatamento quanto a degradação florestal reduzem a capacidade da Amazônia de atuar como um sumidouro de carbono”, observaram os autores.
Desde 1970, as florestas tropicais da região foram reduzidas em 17%, sobretudo para dar lugar a pastagens para a pecuária.
As florestas geralmente são desmatadas com fogo, o que libera grandes quantidades de CO2 e reduz o número de árvores disponíveis para absorvê-lo.
A própria mudança climática também é um fator chave. As temperaturas da estação seca aumentaram em quase 3 ºC em comparação com os níveis pré-industriais, o triplo da média global ao longo do ano.
A combinação desses fatores “coloca em questão a capacidade das florestas tropicais de absorver grandes volumes de CO2”, destaca Scott Denning, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, em artigo também publicado pela Nature.
Os cientistas já se preocupam com essa questão há muito tempo, mas os dados de satélite até agora não foram capazes de fornecer uma resposta clara, em especial por causa da nebulosidade na região.
Para estudar esse problema, a equipe de pesquisa brasileira coletou 600 amostras de CO2 e monóxido de carbono, entre 2010 e 2018, em altitudes de até 4,5 km.
De acordo com suas descobertas, o noroeste da Amazônia está em equilíbrio, mas o leste, principalmente na estação seca, passa a ser uma fonte emissora.
Outra pesquisa recente, com outra metodologia, concluiu que a Amazônia emitiu entre 2010 e 2019 quase 20% a mais de CO2.
Com o derretimento das calotas polares e o degelo do ‘permafrost’ (camada de solo permanentemente congelada), a deterioração da floresta amazônica é um dos principais “pontos de inflexão” que podem levar a mudanças irreparáveis no sistema climático global.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Inpe: Desmatamento na Amazônia é recorde histórico para o mês de junho
Por Marina Verenicz
Queimadas na Amazônia batem recorde de 12 anos para o mês de junho
Por AFP