Sociedade
Dois em três brasileiros concordam em aumentar impostos para mais ricos
Levantamento mostrou consolidação do apoio a ‘reformas tributárias justas e solidárias’, afirma Oxfam


Dois em cada três brasileiros concordam totalmente com a afirmação de que o “governo deveria diminuir os impostos sobre os produtos e serviços que a população consome e compensar a diferença com aumento de impostos sobre a renda dos mais ricos”, índice que vem subindo ao longo dos anos e alcançou o maior patamar em 2020, em face dos impactos da pandemia de coronavírus.
O dado é da nova pesquisa “Nós e as Desigualdades”, realizada pela Oxfam Brasil com o Instituto Datafolha em dezembro de 2020 e publicada nesta segunda-feira 31. Foram realizadas 2.079 entrevistas com brasileiros de todos os estados, e a tendência observada é de apoio a uma maior tributação aos mais ricos, mas não à população no geral.
De 2019 para 2020, o apoio a tributação para os mais ricos subiu de 77% para 84%. Na parcela que se coloca como pobre em termos de renda e bem estar pessoal, 70% concordam totalmente com essa ideia, índice que fica em 65% entre quem se posiciona na classe média baixa, em 61% para quem está na classe média, e em 47% no grupo que se declara de classe média alta ou rico.
A ideia de aumento de impostos quando não há a variante do contraponto aos mais ricos é mais rejeitada, com 33% discordando totalmente da hipótese em 2020. Em 2019, a rejeição era de 59%. Mesmo assim, houve uma mudança na tendência de aprovação, já que concordam totalmente com a afirmação 43%, enquanto apenas 23% afirmavam o mesmo há dois anos.
Entre os pontos elencados como os mais importantes para diminuir a diferença entre os mais ricos e os mais pobres no País, ficaram no topo o combate à corrupção, investimento público em educação e a garantia de direitos iguais entre diferentes gêneros. Entre as opções prioritárias, o aumento dos impostos apareceu em penúltimo, a frente apenas de manter o auxílio emergencial como política de renda básica permanente.
Em seu relatório qualitativo, a Oxfam analisou que os resultados mostram “uma consolidação do apoio da população para reformas tributárias justas e solidárias, que acabem com a regressividade do nosso sistema fiscal, capazes de reduzir impostos sobre bens e serviços, e aumentar aqueles sobre renda e patrimônio, principalmente daqueles mais ricos, indicando um apoio popular às mudanças necessárias no sistema tributário nacional”.
Desigualdades
Questionados sobre se concordavam com a afirmação de que é obrigação dos governos fornecer serviços públicos de qualidade mesmo em contexto de crise fiscal e econômica, cerca de 78% dos entrevistaram cravaram que concordavam totalmente.
Apesar disso, houve discordância entre diferentes estratos sociais quando a questão abordou a possibilidade de tornar permanente o auxílio emergencial para quem o recebe hoje. Entre os entrevistados, 53% dos que recebiam até 1 salário mínimo concordaram totalmente com a possibilidade, enquanto 51% dos com mais de 5 salários mínimos rejeitaram a hipótese.
A pesquisa também reafirmou a tendência do brasileiro em ter percepção alterada sobre o que é ser pobre no País. Três em cada quatro entrevistados com renda individual acima de 5 salários mínimos se colocaramm na metade mais pobre do país, quando, na verdade, essa renda os posiciona entre os 5% com maior renda da pesquisa. De 2019 para 2020, a percepção de estar em condição de pobreza cresceu de 16% para 21%.
Há pouco otimismo em relação à diferença entre os estratos sociais no País, já que 48% discordaram totalmente que o espaço entre as classes irá diminuir. Entre as percepções dos motivos de outras desigualdades, cerca de metade dos brasileiros concorda que mulheres ganham menos do que homens no mercado de trabalho por serem mulheres, enquanto 40% acha o mesmo em relação a negros.
Para a Oxfam, os resultados mostram a tendência de “uma sociedade com opiniões mais firmes e conscientes sobre o peso do machismo e racismo sobre mulheres e pessoas negras”.
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