Política

Lava Jato desviou curso da democracia brasileira, diz Luigi Ferrajoli

De acordo com o professor e ex-juiz italiano, em seu país de origem os métodos da operação não seriam aceitos

Lava Jato desviou curso da democracia brasileira, diz Luigi Ferrajoli
Lava Jato desviou curso da democracia brasileira, diz Luigi Ferrajoli
Foto: Reprodução
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O professor italiano de Filosofia do Direito e de Teoria Geral do Direito Luigi Ferrajoli afirmou, nesta sexta-feira 14, que a operação Lava Jato  “desviou o curso” natural da democracia brasileira ao contribuir com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e condenar o ex-presidente Lula.

O ex-juiz participou de evento do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) com o tema A democracia constitucional e os seus inimigos.

Autor de obras como Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal Poteri selvaggi. La crisi della democrazia italiana, Ferrajoli considera que a decisão do Supremo Tribunal Federal que devolveu os direitos políticos a Lula vai além da disputa eleitoral. “É o restabelecimento das garantias para um processo justo”, disse. “Não é um ato criticável. Temos que afirmar direitos de acordo com a Constituição, acrescentou.

Na conversa, que teve a participação do advogado Cristiano Zanin, da advogada e jornalista Paola Ligasachi, do advogado e diretor do IREE Rafael Valim e do presidente da instituição, Walfrido Warde, o professor reforçou ainda que, na Itália, os métodos da operação não seriam aceitos.

“O que o senhor [Zanin] me contou é inacreditável. Até escuta de conversas aconteceu. É um ilícito grande. Na Itália, é prevista a recusa nos tribunais, daquilo que chamamos de processo ofensivo, em que os juiz se torne inimigo do réu”, afirmou. “Isso vai contra o próprio processo do direito e torna a função de juiz ilegítima, pois traz um fator de descredito”, acrescentou.

Para ele, a Lava Jato representou “dois níveis de agressão”. “Um é do próprio estado de direito e o outro foi desviar o curso da democracia no Brasil”.

“A campanha da imprensa promovida contra o Partido dos Trabalhadores e contra Lula, além do impeachment de Dilma são desvios. O tempo do processo foi alterado para impedir que Lula fosse candidato à Presidência. Foi uma interferência do jogo democrático”, prosseguiu o professor.

A eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, para Ferrajoli, é resultado direito da operação. “Hoje vemos as consequência disso”.

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