

Opinião
A Economist está anunciando o fim do mundo
Se a revista estiver certa, ele me contou que vai-se embora pra Maracangalha ou quem sabe, pra Pasárgada, escreve Alberto Villas


Andam dizendo por aí que as lojas físicas vão acabar num futuro mais próximo do que você imagina. Andam dizendo por aí não, quem está dizendo é a revista The Economist, coisa séria. Será que nunca mais vamos entrar numa Casas Bahia, subir até o primeiro andar e fazer um crediário? Comprar uma máquina de lavar roupa em doze vezes sem juros?
Será que nunca mais vamos ao Ponto Frio Bonzão ver os preços das geladeiras? Abrir a porta, ver se é espaçosa, se o freezer cabe o peru de Natal?
Será que foi a última vez que entramos no Magalu foi naquele fim de semana em que saímos de lá com um barbeador pela metade do preço, depois de muito pechinchar?
Já acabaram com o Crush, com os fósforos marca Olho, com a banana Split das Lojas Americanas, já acabaram com os Hermans Hermits, com o sabonete Eucalol, com a pasta de dente Kolynos, com o sabão Rinso, com o Simca Chambord e agora me vem a Economist com essa história de que, em muito breve, as lojas serão todas virtuais?
E não é só isso. A revista está prevendo também o fim da firma. Aquele lugar onde as pessoas chegam, colocam o dedo indicador pra marcar a presença e senta pra trabalhar ao lado dos colegas de trampo. Daqui pra frente, tudo vai ser diferente. Todo mundo vai trabalhar em casa e na hora do almoço, ao invés de descer com a turma pra comer no quilo, vai pedir iFood para um rango solitário.
Vão acabar as fofocas, aquele cafezinho no meio da tarde pra saber quem foi promovido, quem vai ser demitido, quem está ficando com quem. O máximo que pode acontecer é uma silenciosa troca de zap.
Ó mundo cruel! Ele tinha 15 mil vinis em casa, desfez de todos quando chegou o CD, agora o CD está acabando e ele passa o dia em casa trabalhando e ouvindo música no Spotify.
Com a chegada do kindle, começou a se desfazer da biblioteca que cultivou durante anos e anos. Foi pro sebo até mesmo aquele velho exemplar de Cien Años de Soledad autografado pelo Gabriel Garcia Márquez. Ó mundo cruel!
Ele não recebe mais cartas em envelopes verde e amarelo, não recebe mais o catálogo telefônico no final do ano, não coloca mais Bombril na antena da televisão, não passa mais slides para os amigos, não revela fotografias, nem mesmo chuvisco na televisão ele vê.
Se a Economist estiver certa, ele me contou que vai-se embora pra Maracangalha ou quem sabe, pra Pasárgada. Se é que o rei ainda anda por lá.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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