Política

Professor tem conta desativada no Twitter após mencionar ‘gestão genocida’ de Bolsonaro

‘Ele fala todo tipo de absurdo sobre cloroquina, anti-vacina, distribuição de armas e a plataforma não faz nada’, criticou Daniel Cara

Professor tem conta desativada no Twitter após mencionar ‘gestão genocida’ de Bolsonaro
Professor tem conta desativada no Twitter após mencionar ‘gestão genocida’ de Bolsonaro
Foto: Jane de Araújo/Agência Senado Foto: Jane de Araújo/Agência Senado
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O cientista político Daniel Cara, que também é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, teve a sua conta suspensa no Twitter nesta terça-feira 16.

A medida da rede social ocorreu após o especialista fazer uma publicação crítica ao presidente Jair Bolsonaro, classificando a sua gestão na pandemia como “genocida”.

 

“Jair Bolsonaro busca o caos. O caos é o ambiente ideal para a realização do projeto miliciano de poder. Assim, embora seja desumana, a gestão genocida da pandemia se tornou um instrumento político. Ou seja, o Brasil enfrenta uma sólida articulação entre necropolítica e fascismo”, publicou o professor.

Daniel explicou que a mesma crítica foi publicada em seus perfis no Facebook e Instagram e que não houve nenhuma censura.

“O texto é contextualizado e não há nenhuma indicação de abusivo”, comentou o especialista que mantém o perfil na rede social desde 2009. A conta, segundo Cara, foi importante não só para todas as conquistas da Campanha Nacional pelo Direito a Educação, em que foi coordenador geral, como servia atualmente como mecanismo de contato com alunos e ex-alunos da USP.

“Utilizei na postagem um argumento que, de fato, acredito. Acho que, para o Bolsonaro, de forma extremamente desumana, o caos que está sendo criado na pandemia com pessoas morrendo, recordes de mortes, com nenhum socorro às micro, pequenas e médias empresas, nenhuma forma de proteção às famílias com o auxílio emergencial, isso tudo faz com o que o Brasil entre no caos”, disse à reportagem de Carta Capital.

“O Bolsonaro fala todo tipo de absurdo sobre cloroquina, anti-vacina, sobre as loucuras de distribuição de armas e o Twitter não faz nada”, criticou.

“O meu argumento tem procedência no debate acadêmico. Tem o livro Engenheiros do Caos [do autor Giuliano da Empoli] e vários outros que mostram que esse tipo de governo, como foi o do Trump, dependem do caos, dependem da desordem, só que a desordem mata. Esse é o ponto”, acrescentou.

Felipe Neto foi intimado por chamar o presidente de ‘genocida’

O influenciador digital Felipe Neto foi intimado a depor pela Polícia Civil na segunda-feira 15 após chamar o presidente Jair Bolsonaro de ‘genocida’. A intimação foi entregue na casa do youtuber para que ele responda por crime contra a segurança nacional. A ação ocorreu após denúncia do vereador Carlos Bolsonaro.

O mandado de intimação é do delegado Pablo Dacosta Sartori, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Sartori é o mesmo delegado que o indiciou o influenciador por suposta corrupção de menores. Ele também convocou o cantor Belo para depor sobre show realizado no Rio de Janeiro durante a pandemia.

“A clara tentativa de silenciamento se dá pela intimidação”, escreveu Felipe Neto, nas redes sociais. “Eles querem que eu tenha medo, que eu tema o poder dos governantes. Já disse e repito: um governo deve temer seu povo, nunca o contrário.”

O youtuber afirmou ainda que chamou Bolsonaro de “genocida” porque há “nítida ausência de política de saúde pública no meio da pandemia”, o que colaborou para o aumento do número de mortes por Covid-19. “Uma crítica política não pode ser silenciada jamais”, publicou.

Os crimes contra a segurança nacional são definidos pela Lei nº 7.170/1983. No Artigo 26, o texto proíbe o ato de “caluniar ou difamar o presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou ato ofensivo à reputação”. A pena prevê reclusão de um a quatro anos.

O inquérito contra Felipe Neto foi aberto em 10 de março. Caso ele não compareça ao depoimento, poderá responder pelo crime de desobediência.

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